Pós-de-bem-querer para partilhar/oferecer: Pensamentos, histórias, aprendizagens.Tudo o que acontece quando se vive e se ama a vida!...
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
Post.it: Fazes-me falta
Fazes-me
falta, o Teu calor quando me estás no coração. O Teu sorriso quando me dás
pensamentos de alegria. O teu amor quando me sinto reconfortada. A Tua mensagem
de esperança que me faz acreditar que o dia de amanhã será melhor.
Fazes-me
falta para que a solidão seja afastada
pela Tua companhia. Que o silêncio se preencha pela Tua voz em mim. Que a Tua
presença se manifeste nas pequenas e nas grandes coisas, nos gestos de
conhecidos e de anónimos.
Fazes-me
falta para Te encontrar em cada rosto triste que perdeu a tua luz. Em cada
passo lento que se perdeu do Teu caminho.
Em
cada mão vazia que já não se estende para o outro num gesto de quem dá ou pede
ajuda.
Fazes-me
falta para preencher este vazio de sonhos, este frio sem ânimo, esta paisagem a
que o fogo roubou o verde, estes rios que sem chuva se tornaram riachos.
Fazes-me falta, acredito que fazes falta a muitas pessoa que perderam familiares, amigos, casas, que
perderam tudo ou quase tudo que era a sua existência. Aos que sem tecto e sem
afecto dormem nas ruas, aos que sofrem nos hospitais, aos que sofrem nos seus
lares. Fazes-lhes falta, muita falta, para sentirem que a vida ainda tem
sentido, que a felicidade mesmo que tarde, um dia vem.
Fazes-nos
falta, hoje, sempre, vem, estamos à Tua espera neste Natal para festejar a Tua chegada a cada um de nós.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Trazia no olhar mundos tristes
O que me lembro, não sei,
Sinto que no seu olhar, viajei,
Por montes, vales, histórias,
tantas, todas, boas memórias.
A voz, qual balada embaladora,
Era de toda a dor conciliadora.
Não era o que por vezes dizia,
Era sobretudo, como o fazia.
Os gestos, asas a pairar
Raios de sol em tons de luar.
Á sua volta tudo era mar,
Mas de um suave navegar.
Mas de tudo a maior recordação,
Foi o silêncio que vem do coração.
Quando um dia timidamente sorriste
Vi que no olhar havia um mundo triste.
Sinto que no seu olhar, viajei,
Por montes, vales, histórias,
tantas, todas, boas memórias.
A voz, qual balada embaladora,
Era de toda a dor conciliadora.
Não era o que por vezes dizia,
Era sobretudo, como o fazia.
Os gestos, asas a pairar
Raios de sol em tons de luar.
Á sua volta tudo era mar,
Mas de um suave navegar.
Mas de tudo a maior recordação,
Foi o silêncio que vem do coração.
Quando um dia timidamente sorriste
Vi que no olhar havia um mundo triste.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Post.it: Um bocejo
Devem achar-me um bocejo, sinto-me por
vezes realmente um bocejo no olhar dos outros. Imagino quantos bocejos dará
quem me lê e se tiver coragem, quem me relê, porque é verdade há quem me
relei-a.
Ouço os meus amigos a falar de
política e o meu pensamento voa pela copa das árvores, ou por voos rasantes
sobre o mar desafiando a crista das ondas. Mergulho de tal maneira nesta
espécie de fantasia que por vezes até dou por mim a sorrir, o sorriso de quem
não está presente nas discussões sobre o aumento dos impostos, sobre as guerras
nacionais e internacionais. Sobre as privatizações empresariais, os créditos
malparados, etc, etc, e muitos etc. mais. Sou completamente desligada, não por
falta de interesse, não é que não me importe, que não me doa quando mão alheia
me entra no bolso e “rouba” sem prévio aviso o parco pé-de-meia que vou
guardando para velhice. Quem não teme pelas consequências normalmente funestas
de uns e de outros e que de um momento
para o outro podem virar as nossas vidas do avesso. A verdade é que vivo no
aqui e agora, ainda que aparentemente fantasioso, fico cada vez mais distante
do passado, cada vez menos ansiosa com o futuro, só o agora me importa. E agora
apetece-me voar com o olhar para horizontes mais soalheiros. Quando os meus
sentidos regressam à mesa do café, ouço apenas um silêncio aterrador, quase
reprovador, por fim alguém questiona – E tu o que achas? – O que acho, sei lá,
não “pago” aos deputados para defenderem os meus interesses? Não elegi um
ministro e um presidente para melhor servirem o meu país? Cada um que cumpra a
sua função, tal como eu como cidadã cumpro as minhas! Mas os meus desabafos
ficam para a escrita e mesmo nela sempre encontro um sentido positivo para
quase tudo.
Mais uma vez, tenho a sensação de
bocejo do leitor que mesmo sendo amigo, não deixa, talvez de enfadar-se. Imagino o seu sussurrar contestante
“Deixa lá de ser uma Virgem Maria sem altar, espevita esses neurónios, acaba
com essas balelas de generosidade, de amor ao próximo. Tira do rosto esse
sorriso conciliador, cala de vez essas palavras de esperança. Esse copo que
para ti parece sempre cheio enquanto para mim está sempre vazio”. E num rasgo
de quase malícia, acende centelhas de ténue sarcasmo “se eu fosse governo
havias de pagar imposto só por te armares em boazinha, em benevolente e
positiva, isso lá existe?” Ou existe?
De repente a dúvida. Por essa dúvida,
mas só mesmo por ela, vale a pena continuar a estar aqui, a criar bocejos
nuns, algum motivo de interesse para outros. No entanto, não vou cansar a voz,
não vou gastar as palavras, só para te convencer de algo que não aceitas. Um dia
o descobrirás (suponho/desejo) se
voltares aqui, é porque já o descobriste, então vem, mas traz contigo as asas
do sonhar, do acreditar e vamos ser um bando de pássaros à solta, libertos do
peso de ser infeliz. E respondo ao teu bocejo “Quem me dera que a infelicidade
pagasse imposto, aposto que todos tentaríamos verdadeiramente, ser felizes”...
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
Poesia
É
em ti que tanto calo.
É
em ti que adormeço.
É
em ti que esqueço.
É
contigo que sonho.
Em
ti a esperança ponho.
És
a cura do passado.
És
o futuro desenhado.
És
neste passo a passo,
O
mais terno enlaço.
A
minha fonte de luz,
Que
na noite me conduz.
És
a palavra do meu querer,
Cada
silaba do meu crescer.
Em
ti liberto-me de cada dor,
E
em ilusão sou tão melhor.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Post.it: Mês do Natal
Já estamos com um pé no mês do Natal, mas falar de Natal neste tempo, é-nos
doloroso, para uns mais do que para outros, para os que perderam familiares,
amigos, uns por questões de saúde, outros por acidentes, outros ainda nos
incêndios que avassalaram o nosso país, falar do Natal, talvez não faça sequer
sentido.
Mas
também será difícil falar de Natal para os que, perderam os seus bens fruto de
uma vida de trabalho, ou o seu único meio de sustento, nesses mesmos incêndios
ou em outras catástrofes naturais. Não esquecendo o mundo que nos rodeia, esse
universo de relações, que nos faz sentir cada vez mais próximo o perigo das
ameaças belicistas entre países que se radicalizam. Ou, ainda, para todos nós
que começamos a sentir as manifestações das alterações ambientais e o quanto
nos choca a falta de consciência dos poderes de decisão sobre esta questão.
Não
esquecendo os muitos, que por razões várias sentem que a dor quase supera a fé,
que nos rouba a alegria da festa, e
enche de penumbra o nascimento que deveria ser de renovada esperança.
Falar
hoje de Natal, abala-nos, confunde-nos, por tudo o que aconteceu e que nos
deixou tão pouco para agradecer nesta época.
Contudo,
talvez seja agora que o Natal deve ser mais sentido, mais reforçado, mais
unificado por cada um. Revelando a nossa capacidade de lutar para renascer das
cinzas e seguir em frente, construindo, ou reconstruindo os sonhos perdidos,
queimados, sonegados à nossa confiança.
Devemos,
por tudo isso, oferecer a quem mais precisa um Natal mais solidário, mais
humanitário. Devemos presentear cada
coração com um abraço. Oferecer a
cada dia uma semente de esperança.
Sairmos
da nossa “ilha” não lhe chamarei “indiferença” mas de rotineira “apatia” e darmos-nos aos outros em generosidade, em
partilha, em presença.
Este
ano, devíamos em vez de acolher o pinheiro em nossa casa, plantá-lo numa
floresta devastada, e ver surgir à volta do nosso, muitos outros.
Vamos
entrar no mês do Natal, vamos recebe-lo com carinho, ainda que a nossa alegria
esteja magoada, que sintamos a nossa alma vazia, vamos enche-la de fé e leva-la
a quem mais precisar. Que este Natal não
seja de presentes medidos pelo seu valor, mas que o seja pelo seu amor. Se o
Natal vos bater à porta, sejam generosos, deixem-no entrar…
terça-feira, 28 de novembro de 2017
Post.it: Terra
Sinto-me
feita de ti, de vento, de folhas caídas, de salpicos de mar. Sou montanha e
planície, rio que te delineia as margens em voos que rasgam a linha do horizonte. Sou onda que se estende
pelos 7 mares onde ecoam sereias; sou nuvem que se alonga qual preguiça
infinita no azul celeste. Sou como tu, feita de sonhos, de ilusões, de
estranhas e doces paixões, ainda tenho esperança, ainda guardo resquícios de
confiança, sou um velha no olhar, mas no coração uma criança.
Sou
tua, abraço-te e beijo-te, adormeço em ti e cubro-me com um manto luar.
Sou
eu, a ultima andorinha da Primavera, sim, as minhas irmãs já partiram. Eu, ando
sempre atrasada, sempre perdida, sempre esquecida do tempo. Porque o tempo
são-me asas e as asas só querem voar por terras sem fronteira, por regiões sem
muros, por olhares sem grades, por corações sem medos.
Estou
atrasada, reconheço, mas culpa não é totalmente minha, afinal, a natureza não
tem horas, não usa relógio, não segue as badaladas do sino da igreja, nem se
rege por um calendário de folhas removíveis. Vivo ao sabor do vento e da chuva.
Cantando ao namoro desencontrado do sol e da lua.
Terra,
és a minha mãe, a minha casa, o meu cais, o meu ninho, és o meu calor, o frio,
a dor e a felicidade, a alegria e a tristeza, até a saudade.
Por
isso parto, por isso regresso, só porque quero, só porque me chamas, sigo-te,
estou sempre onde estás, aqui, ali, pintando de verde e de azul a minha solitária
existência.
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Numa aldeia
Onde o frio
se atenua com amor.
Viver numa
casa de pedra baixinha,
Ter uma amiga
em cada vizinha.
Casa de pedra
escura,
Onde a noite
mais tempo dura.
Campos cheios
de neve,
Onde a brisa
que nos toca é leve.
Acordar com
os sinos na passagem,
Dos rebanhos
que vã para a pastagem.
O pastor com
o cajado comandando,
O cão ao
redor dando ordens ladrando.
Queria viver
numa pequena aldeia,
Onde a todos
com bom dia se presenteia.
Partilhar
histórias ao calor da lareira,
E nos Santos
cantar e saltar a fogueira.
Queria viver
numa aldeia aconchegante,
Onde o tempo
passa suave e devagar.
O rio
percorre a margem deslizante,
E o olhar
parece pelos campos voar.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Post.it: Estatisticamente estática
Queria
construir jardins feitos de tinta, uma tinta que
não pinta mas escreve e descreve a aura da emoção. Queria fazer flores,
oferecer amores em tons de primavera em ternos odores, mas, eu que apenas
escrevo, ou melhor, tento escrever, acreditando que pelas palavras consigo dar
um pouco de mim, sinto e sei nada mais faço do que míseros rabiscos sobre as
linhas.
Rabiscos
que parecem, ou melhor que quase, mesmo parecem, palavras. Tão simples, tão
banais, mas também elas têm de passar pela mudança, uma quase transformação
onde ainda me sinto aprendiz e criança, o papel passa a ser um ecrã e a caneta
é uma tecla.
Felizmente
ainda há dedos dedilhando e aquecendo a frieza do teclado. Felizmente ainda há
a mão ponta do caminho que começa suave no coração para que possa desenhar
jardins e que nele cresçam flores. Para que cada semente em forma de letras
cresça em árvores com doces emoções que embalam o fim das tardes.
Por
fim, quando os sentidos se desligam das máquinas e são novamente humanas,
frágeis, sensíveis, quando libertam olhar prisioneiro desse plano direito e
estático, podem, então, abrir as asas e
voar sem receio, pelos contornos do horizonte.
De
vez em quando, é preciso, ser-se pessoa e viajar pelos caminhos da alma, ser
mais do que estatística, ficar mais do que estática e, ouvir os passos ao
compasso do coração.
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
O meu lugar
Onde eu sou
apenas eu,
Essa gota tão
leve de ar,
Dançando no
azul do céu.
A vida é o
meu estado,
Meu já corpo
cansado,
Sonho algures abandonado,
Horizonte de pó, apagado.
A vida é a
minha noite,
Um renascer após
a morte,
Onde arrisco
a minha sorte,
E busco um rumo sem norte.
A vida é o
meu longo dia,
Sol que
explode no peito,
Estranha dor sabe
a alegria,
E me expulsa do quente leito.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
Post.it: A nossa história
Temos
uma história, um passado, um presente, uma história feita de histórias, como se
nos fossem degraus para chegarmos mais adiante. Somos a nossa história, escrita
nas células do viver que por dentro lhe vão dando sentido. Que por dentro nos
vão erguendo muros de separação, ou construindo pontes de união. Tudo se passa
aqui, algures, entre o cérebro e o coração, entre o querer e a razão. Por vezes
há uma sintonia, um encontro de ideais, uma harmonia e nesse instante, nesse
mero instante, tudo faz sentido. Como se víssemos para lá do finito que a vista
alcança, um horizonte que só o sentir consegue revelar-nos.
Por
isso, nem que seja só por isso, por esse instante de luz interior, tudo vale
a pena é o nos identifica, nomeia, compõe. Temos afinal uma missão, que talvez
não seja feita de heroísmos, de grandes dádivas, sacrifícios, é antes um
encontro, não aquele que tão ansiosamente procuramos, mas o que tão
discretamente encontramos ou que nos encontra. Nesse mediar
existir ente a luz e a escuridão, entre as cores mais luminosas e os
tons mais pálidos e cinzentos, aprendemos a subsistir, a sorrir.
Enquanto
nos dizem, que toda a dor passa. O tempo tudo cura. Mas não passa, mas não
cura, apenas muda de nome, apenas muda de tom. E já não dói tanto e já não se
chama assim. Passa a chamar-se saudade. Passa a ser uma lembrança, uma memória,
uma cada vez mais breve história.
Afinal
a dor passa, passa por nós e o que fica, torna-se ténue como um rasto de rio,
que no seu percurso se vai transformando em ribeiro, em riacho, em pequeno
curso de água, quase no fim em gota e depois em, pouco mais do que nada.
Seca-se
nos olhos, enquanto ainda escorre no coração e um dia passa a ser um consolador
embalo.
Afinal,
o tempo que tudo cura, quando nos vai afagando as mágoas, com palavras de
vento, com abraços de brisas. Em nós vai crescendo uma história, a da nossa vida...
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
Ode ao mar
Mesmo até na noite escura,
Que no teu abraço de
enseada,
Encontro um cais de
ternura.
Se ao menos não fosses quem
és,
Se ao menos tivesses
tempestades.
Partiria com as mais frias
marés,
E não voltaria nem pelas
saudades.
Não querendo sempre a ti regresso,
Pelo
desejo dessa tua felicidade,
Que une o
meu querer disperso.
Em sol
ardente contenho o ensejo,
A mais doida
e apaixonada vontade,
De por
inteiro me afogar no teu beijo.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
Post.it: Como se tivesse asas
As palavras, ai as palavras, sempre as
palavras, não as que escrevo, mas as que gostaria de escrever, essas que fazem
voar como se tivéssemos asas, não são minhas, apenas me saem da boca, do pensamento, do sentimento.
Por vezes, agarro-as, prendo-as na voz
com laços de suspiro, mas elas desprendem-se num sorriso e partem. Depois, fica
um silêncio que magoa, uma saudade crescente. Porque, sim, gosto delas, sinto
que algumas, chegam, também, a gostar de mim. A abraçar-me e num atrevimento
que me surpreende, roubam-me um beijo num gesto de brisa. Ruboriza-se-me o
rosto, escondo o embaraço, mas não me ofendo.
Gosto delas, tanto ou mais do que elas
gostam de mim. Só me entristece que nem sempre as encontre, que me deixem só
perante a folha em branco, o pensamento vazio, o horizonte replecto de um
estranho nada.
Porque sem elas, que importam as
flores, as ondas do mar, as montanhas, os prados cobertos de relva, o sol
radiante, a chuva pungente. São elas que me fazer ver e sentir tudo o que
existe em meu redor.
São elas que me fazem navegar na orla
marítima, correr pelas verdes planuras, saltar riachos, atravessar pontes,
romper a linha do horizonte e adormecer feliz numa duna com lençóis de maresia,
mesmo que sejam apenas por palavras de sensações, algumas apenas sonhadas e
nunca vividas.
Nos dias solitários murmuro-as no
vento e ouço-lhes o eco que segue rumo ao infinito. Invejo-lhes a liberdade,
elas que já sofreram milenares prisões. Continuam a ser humildes, tímidas,
retraídas, por vezes até inseguras, outras vezes envergonhadas, mas também são
corajosas, arrojadas, destemidas, valentes, tudo o que queria ser e, reconheço,
não sou.
Estremeço de medos infindos,
escondo-me nos armários das emoções e choro, sim, por vezes, demasiadas vezes,
choro, lágrimas inexplicáveis aos olhos, à razão. Elas são melhores e maiores do que eu, erguem
bandeiras, ultrapassam fronteiras, chegam à lua e dançam com as estrelas.
Por vezes sinto que as tenho nas mãos e
fecho-as com receio de que fujam, mas logo elas numa gargalhada intrépida
revelam que não estão nela mas sim no
coração e eu, por fim, descanso, enquanto as sinto a ser-me.
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Post.it: A herança
Quando
se fala de herança, de imediato pensamos em bens materiais, quando há outras
quiçá, bem mais importantes, a herança genética, essa que transporto e prolongo
mas que, por opções do destino não transmiti para o futuro.
A
verdadeira herança, no entanto, é a que
vamos deixando ainda em vida, as pequenas ou grandes marcas que ficam de nós
nos outros e dos outros em nós quando somos também seus herdeiros. É essa a
herança, que posso e tento deixar em forma de gratidão.
O
que fica de nós na vida dos outros e na natureza que nos recebeu e aconchegou é
uma herança imortal, infinita no tempo e no espaço. Gostava de pensar que a
minha pegada humana não foi demasiado grande e
que se não tornei o mundo um pouco melhor, pelo menos que não o
deixei pior à minha passagem por ele.
Quanto
aos outros, a família, os amigos, colegas, vizinhos, conhecidos e até
desconhecidos, entristeço-me sempre que causo uma lágrima, uma mágoa, uma
tristeza por mais pequena que seja. Já a minha alegria nasce de um simples
sorriso, sobretudo se a tiver causado.
Os
bens materiais, podem comprar, (quase) tudo no mundo, mas as coisas que mais
importam, a serenidade, a paz, a conciliação, a concórdia, a harmonia, a
solidariedade, a cooperação, o companheirismo, a amizade, isso não se compra,
herda-se na aprendizagem e no carácter.
Permitam-me
que vá deixando em vós a minha herança, “que a minha presença vos anime e a minha ausência vos conforte” (S.
Estanislau)
terça-feira, 31 de outubro de 2017
Post.it: Dedico-te
Dedico-te
esta lágrima, sim, é triste, mas por ser triste não significa que seja mau.
Dedico-te esta lágrima, porque a mereces receber embrulhada num presente de
riso e ternura, tudo o que me foste, tudo o que me és, hoje, sempre. A beleza
das coisas, não desaparece, só porque algo ou alguém perece. A beleza é eterna
e termina apenas com a nossa finitude.
Dedico-te
esta lágrima, por todas a que me fizeste verter enquanto ria das tuas graças,
porque até mesmo as desgraças contadas por ti ganhavam contornos de comédia.
Continha-me em suspense, o momento, o assunto a isso o aconselhava, mas depois
rias e eu ria contigo.
Dedico-te
esta lágrima, adiada, apanhada de surpresa, fiquei estática, parou-se-me a
vida, o ânimo que lhe dava movimento e sentimento. Estava ali, mas não estava,
buscava-te em outros lugares, aqueles por onde navegámos, mas nem aí te
encontrei.
Quase
em desespero procurei-te nos lugares por onde sonhámos que um dia iríamos, mas
nunca chegamos a ir, quem sabe, agora, tenhas ido, sem mim.
Mas
não, de certeza que não estavas lá, como o sabia? Sabia-o porque estavas aqui, palpitando-me
no peito, mas, estranhamente, fisicamente, tão longe de mim.
É
ilógico pensar a vida sem te ter no caminho, às vezes apanho-me a marcar o teu
número, a pensar que te vou contar o que me aconteceu nesse dia. Disparatado,
talvez, mas ainda tenho longas conversas contigo. E chego até quase, ainda que apenas
quase, a ouvir-te rir dos meus medos, das minhas tolices, das minhas lamechices.
Por
isso, dedico-te esta lágrima, que não é chorada, que já não é sofrida, é uma
janela entreaberta que deixa escapar um suspiro em forma de gota de água, criei-a,
só para te a oferecer. Límpida, cristalina, parece um pequeno cristal
translucido, parece vazio mas se a olharmos bem para dentro dela está tão
replecta de mim, de ti, em cada memória que partilhamos.
Hoje,
sempre, com menos vazio, com mais carinho dedico-te, este sorriso…
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
Post.it: Os nomes
Gosto
do meu nome, é pequeno, é simples, claro, directo, conciso. Fácil de ser
pronunciado, fácil de ser entendido. Gosto do meu nome, diz tanto de mim, na
sonoridade suave, na humildade.
Contrário
aos nomes grandes, intensos, contraditórios, duros na sua sonoridade.
O
meu nome é uma segunda pele, veste-me, reveste-me, caracteriza-me. É neutro
diferente daqueles que têm nomes de flores, de lugares, de coisas, o meu nada
quer dizer e diz tanto. Fala de mim sem me elogiar, nem me derrotar. Quando o
digo, todas as pessoas o identificam, parece-lhes familiar, sorriem e eu
sorrio-lhe de volta, como se o meu nome fosse apenas isso, um sorriso.
Gosto
do meu nome, não tem rococós de jet set,
nem maneirismos de nobreza. É um nome do povo, plebeu e aristocrata porque é
imparcial e isento de conotações.
Há
nomes com passado, com história, com herança de vidas que já os tornaram
únicos, o meu foi posse de algumas figuras importantes, mas todas elas
generosas na sua vivência. Não foram mulheres de “armas”, foram mulheres que
lutaram com o coração. Orgulho-me de transportar o seu nome, agora também meu.
Orgulho-me de quem eram e, tento na minha modesta pessoa ser um pouco como
elas.
Mas pretendo, sobretudo, honrar o meu nome, mantê-lo imaculado, puro,
sinónimo de pessoa com valores, boa cidadã, respeitadora da natureza, solidária
e amiga da humanidade, boa filha, irmã, tia. Para que quem me conhece possa
pronunciar o meu nome sem medo, sem arrependimento mas com alegria, com
simpatia, amizade e afeição. Que o meu nome seja uma nuvem branca num universo
azul celeste. Que exista e permaneça o tempo que é seu e depois se esfume sem
rasto de mágoa.
Gosto
do meu nome mesmo que seja igual a tantos outros, mesmo que seja banal. Não é
que o meu nome seja melhor que o dos outros. Nem que o dos outros seja melhor
ou bonito que o meu, mas, gosto do meu nome, porque é meu, porque sou como ele
e nele, sou eu.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
Post.it: Em chamas
Este
país está a arder em chamas de revolta. Este país está queimado, esquecido,
magoado. Este país está em lágrimas de devastidão, as únicas águas que
tentam sem conseguir, apagar o fogo do
seu desespero.
Neste
país arderam vidas, casas, florestas, ardeu a esperança, a confiança naqueles
que lhes garantiram segurança e
protecção, que, não chegou ou
chegou demasiado tarde.
O
país está em cinzas, em pó, espalhado por vales e montanhas que se vestem
de um negro enlutado.
Este
país está triste, uma tristeza cheia de lamentos que nenhum abraço consegue
consolar.
Procuram-se
os responsáveis, que são todos, mas a poucos são imputadas as culpas. Um pedido
de desculpas, não resolve, sobretudo se é arrancado e não generosamente,
solidariamente oferecido.
E
aqueles que conscientemente e maldosamente atearam o fogo devastador, que lhes
“arda” a consciência! Que lhes “queime” no coração cada vida destroçada, cada
mãe sem filho, cada filho sem mãe, cada família sem tecto, cada trabalhador sem
emprego, cada floresta sem verde, cada animal sem pasto. Este país vai
erguer-se, renascer da cinzas, voltar a sorrir, sim vai!
Mas
vai ser preciso muitos anos, muito trabalho e sobretudo muita coragem. Porque
se é fácil erguer paredes, plantar árvores, é impossível fazer ressurgir as
vidas que o fogo na sua passagem levou consigo. É preciso continuar a apagar o
“fogo” que ainda arde em cada pessoa que o viu destruir-lhe a vida, um passado
de labor para erguer o futuro.
É
preciso encontrar soluções para o agora e para o amanhã para que tal calamidade
não volte a marcar a história deste país.
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Diário
Toda
a vida quando escrevi,
Que
não leste, que não senti,
Ultrapassar
o denso morro.
Corrigi
a minha caligrafia,
Para
que a mensagem voasse,
Fui
esmorecendo em cada dia,
Sem
que a resposta chegasse.
Vou
apagar o escrever,
E
o coração deixar calado.
Por
mais cais a que vá ter
Sou
solidão em todo o lado.
sábado, 14 de outubro de 2017
Post.it: A viagem
Há um caminho que fazemos juntos, que temos de fazer, uns
devagar e apreciando a paisagem, outros com pressa, ansiosos por chegar, por
descobrir onde o caminho os leva.
Mas o caminho não leva ninguém, as pessoas é que vão nele,
através dos seus passos, conduzidos pelo (coração), pela (razão).
E pelo caminho, vão falando, pensando, descobrindo-se,
percebendo que tudo é tanto, mas muito pouco comparado com o que há para ser.
Sentimo-nos eternos discípulos da vida, humildes perante o
mestre tempo que, na sua sabedoria, nos vai guiando. Com ela, as nossas dúvidas
vão-se dissipando. Com ele, as nossas certezas vão crescendo.
E, nesse percurso , vamos dando algo de nós, vamos recebendo
algo dos outros. A bagagem, por vezes, torna-se pesada, aqui e ali perdem-se
algumas coisas, recuperam-se noutro sítio, tantas memórias, tantas histórias,
coisas a que nos agarramos como um náufrago a uma bóia de salvação. Outras,
simplesmente, deixamos que partam e sigam também elas o seu caminho.
O ideal seria prosseguir de mãos vazias mas de coração cheio,
cheio de olhares que vêem para lá do crivo pessoal e cultural. Nem sempre
crescemos bem, nem sempre, sequer, crescemos. Apenas vamos, andando, porque nos
ensinam a andar, porque acreditamos que faz sentido andar.
Mas há momentos em que temos de parar, parar de procurar e
perceber que encontramos, que estava guardado, escondido dentro d e nós. Por
quê só agora, questionamos? A resposta fácil é que tudo tem a sua hora, o seu
momento. A difícil é que dependeu sempre de nós, de a vermos, sentirmos e
aceitarmos quem e como ela é. E isso é doloroso, chega a ser tenebroso. Somos
nós a crescer por dentro, reconhecer que esteve sempre aqui, o que procurámos
tão longe. Gastámos os passos, cansámos os sonhos, fizemos e continuamos a
fazer o nosso caminho e, independentemente da estrada por onde vamos e formos, cresce-nos
a certeza de que a viagem é, sobretudo, dentro de nós.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Post.it: Depende...
As
pessoas não nos decepcionam, nós é que nos iludimos acerca delas. Elas são o
que são, não o que precisamos que sejam.
Somos
uma multidão, uma civilização de pessoas, de mundos, um universo de
existências, vivemos através dos nossos crivos culturais que nos identificam e
distinguem, que nos tornam diferentes, únicos.
Sabemos
isso, mas a verdade é que aqui e ali tentamos moldar os outros à nossa forma.
Ou deixamos que nos moldem pelos meandros da ternura, sonhamos, idealizamos que
essa alteração nos torna melhores e simultaneamente, complementares e completos.
Reconhecemos
os contornos das margens que os especificam, identificamo-los como se nos
fossem caminhos com trilhos que devemos evitar, mas também com outros por onde
nos sentimos felizes por seguir.
No
entanto, nem isso é totalmente exacto, somos seres complexos, intrincados de
dor e de esperança, pessoas crescidas com sonhos de criança.
Porque
há dias em que o céu nos escurece o olhar, nos tira o sorriso, nos rouba as
palavras, nos usurpa o alento. Dias de nevoeiro e tudo o que nos acontece com
os outros é tenso, é denso, parece que uma tempestade pode nascer de “um copo
de água” que se entorna e de repente não nos conhecemos em nós nem nos outros.
Porque
há dias em que se tivéssemos asas voaríamos por tanta leveza, tanta
luminosidade que nos avassala o coração e nos faz acreditar que seres excepcionais,
maravilhosos, que nos levam à lua apenas e só por se sentarem ao nosso lado,
segurarem as nossas mães e dizerem que está tudo bem.
Mas
quantas vezes nos encontramos perdidos na multidão, sufocando de solidão.
Quantas vezes nos sentimos tão acompanhados só por nós. Não por sermos
perfeitos, não por sermos melhores, afinal também o nosso, eu, por vezes, consegue decepcionar-nos, a
diferença é que apesar de errarmos, da revolta, do diálogo
exacerbado, do silêncio abismal das nossas guerras internas, sabemos, que
estaremos sempre ali, presentes para o resto das nossas vidas. Quanto aos
outros, nunca o saberemos, talvez sim,
talvez não, depende…
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Post.it: Saudade
Noutro
dia ouvi alguém dizer que detestava a palavra saudade, soou-me estranho, contraditório
com o povo que somos, tão agarrados à sua concepção.
Mas depois, deixei os
pensamentos navegar e comecei a sentir que também eu detesto a palavra saudade,
essa expressão que nos seduz e de imediato nos aprisiona, a um momento, a um
passado que nos deixou boas e más recordações.
Mas
também uma outra saudade, que se torna a nossa segunda pele, quando ficamos
incapazes de a despir, de afastar de nós os sonhos que sonhamos mas que não
realizamos. Quanto tempo perdemos nesse mergulho de fantasia, quanto tempo
ficámos sem ver a realidade, sem respirar a verdade que nos rodeava?
Depois
caímos nos queixumes de que o tempo voa, que não sabemos para onde ele foi, que
não demos conta de por nós passar.
Até
aqui, nada de novo, afinal faz parte de nós, povo da beira-mar, deixarmos o
pensamento velejar e, nesse erguer das velas com o pano da esperança, deixar que
o vento nos venha de feição e nos conduza até ao nosso destino.
E
a saudade, quer se goste ou não, está-nos entranhada no ADN, em cada célula de
vida que nos mareia o corpo, como se fosse um barco condenado a viajar-nos. Nós, com passos deambulantes, entre o paraíso e o inferno vamos levando os nossos
dias, as nossas noites de insónia e escrevendo, na estrada de tantos caminhos, a
mesma palavra, o mesmo sentimento que não queremos lembrar mas tememos esquecer.
Saudade, apenas te peço: se não podes mudar de nome, muda pelo menos de destino!
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
Esta (infelicidade)
Pela
tortura do que não fiz.
O
amor não confessado,
O
sonho sempre adiado.
Esse
olhar que foi fugidio,
Esse
inverno solitário e frio.
Foi
por medo, por cobardia,
Que
deixei partir esse dia.
Toda
a minha vida vou sentir,
O
que de nós podia existir.
A
dúvida a me martirizar,
A
incerteza a me magoar.
O
passado que não tivemos,
O
presente que não vivemos.
O
futuro que de ti tão distante,
Este coração quase emigrante.
Se
te contasse ririas, sei que sim,
Da
saudade que navega em mim.
Os
meus passos que sem direcção,
Perguntam
pelos teus onde vão.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
Post.it: Hábitos
Não
tenho uma vida, tenho o hábito de viver. Não tenho um emprego, tenho o hábito
de ir trabalhar, de me levantar cedo, tomar duche, engolir o pequeno almoço e
sentar-me na paragem à espera do autocarro, que tem o hábito de se atrasar.
Por
hábito, digo bom dia aos colegas, sorrio ou terá sido um espasmo muscular?
Pico
o ponto, sento-me na cadeira giratória em frente à secretária e começo a
“falar” com o computador, mais do que um hábito, começa a ser uma fiel amizade,
ele está sempre presente nos meus dias, meses, anos, ali, constante das 9 às
18 horas, de segunda a sexta. Se falta a luz é uma catástrofe, como se tivesse
morrido um parente próximo, um amigo do peito. Fico sem norte, sem sul, sem
rumo, sem hábito, perco-me de mim. Número de cidadão, de NiF, de NiB, etc., etc.,
não sei, está tudo no computador! Eu estou no computador! A minha identidade,
os meus segredos, sonhos, vitórias, fracassos. Porque, a dada altura tornou-se
um hábito, um quase vicio, partilhar a vida com o meu PC.
À
noite, regresso a casa, mas antes disso, por hábito, sigo os mesmos caminhos,
conto os mesmos passos até à esquina, antes de atravessar na passadeira,
sento-me no mesmo banco de jardim, dou pão aos mesmos pombos, bebo um café,
ouço as mesmas conversas. Por hábito, apanho o mesmo autocarro, com as mesmas
pessoas, já nos cumprimentamos.
"A Joana hoje não vem?"
"Atrasou-se, tinha uma reunião"
"E a Teresa, não a tenho visto, estará doente?"
"Não, está grávida, mas como é de risco devido à idade, tem de ficar de repouso nos primeiros meses".
"Hoje o autocarro vai mais cheio, começaram as aulas, lá vêm os miúdos carregados com as mochilas furando pelo corredor!”
”Pois é, já me tinha habituado ao sossego neste autocarro, agora é uma algazarra de gritos e conversas, só espero que não haja muito trânsito para chegar a casa depressa e relaxar um pouco, antes dos filhos chegarem com o pai”.
Porque a dada altura já não se tem um casamento, tem-se um hábito.
"A Joana hoje não vem?"
"Atrasou-se, tinha uma reunião"
"E a Teresa, não a tenho visto, estará doente?"
"Não, está grávida, mas como é de risco devido à idade, tem de ficar de repouso nos primeiros meses".
"Hoje o autocarro vai mais cheio, começaram as aulas, lá vêm os miúdos carregados com as mochilas furando pelo corredor!”
”Pois é, já me tinha habituado ao sossego neste autocarro, agora é uma algazarra de gritos e conversas, só espero que não haja muito trânsito para chegar a casa depressa e relaxar um pouco, antes dos filhos chegarem com o pai”.
Porque a dada altura já não se tem um casamento, tem-se um hábito.
Adaptamo-nos,
moldamo-nos, encaixamo-nos, acomodamo-nos, aceitamo-nos a nós e aos outros, por amor,
amizade, ou quem sabe, por hábito.
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Post.it: Este Outono
O outono bateu-me à porta, vinha
suave, tímido, como um namorado arrependido. Não foi uma chegada mas um
regresso, afinal, quantos outonos já conheci? Muitos, começo a somá-los,
devagar, porque a dada altura da vida, já não se tem pressa, chega-se lá é a
nossa cada vez maior convicção e por lá entenda-se a um destino que por vezes
existe paralelo aos nossos desejos.
No entanto, outono, o nosso outono,
acrescenta em nós uma gratidão que nos era desconhecida nos áureos tempos de
natural rebeldia. É normal, faz parte, de se começar a “crescer”, porque é isso
que sente, um crescimento prazeroso.
Uma amiga que tenho sempre bem-humorada,
começou a ganhar alguns quilinhos mais, fez dietas, todas as que ouviu na rádio,
na televisão, na internet, fechou a boca, bebeu litros de água, por fim, reflectiu
e desistiu, “não estou gorda, estou é cheia de sabedoria!”.
Quem me dera ter a sua sabedoria
humana, a sua capacidade de caminhar sobre as folhas de outono sem as
amachucar, com a leveza da sua cordialidade.
O outono bateu-me à porta, abri-a
devagar com receio que as promessas de fidelidade, de carinho, de
companheirismo não fossem cumpridas e que as folhas voassem no primeiro sopro
de vento e ele entrou, sentou-se na minha sala com um sorriso renovado,
pediu-me esperança e eu voltei a acredita, pediu-me confiança e eu confiei.
Como negar-lhe que entre, que fique e
que faça da minha vida a sua terna morada? Somos cada época, cada estação,
florindo, rejubilando de sol, somos folhas que caiem para que se possam
renovar, somos frio, vento e por vezes chuva, para que tudo comece, recomece,
renasça e volte a ser com promessas mesmo que não cumpridas o melhor de nós.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Post.it: Por este rio
Imagino
o tempo como se fosse um rio, um rio que passa lá fora e eu numa das margens,
observo-o e deixo-o passar. Sinto que passa por mim, por vezes passa em mim, e
nesse passar vai deixando fios de neve no meu cabelo enquanto o rosto outrora
liso e luminoso ganha socalcos de foz e sombras de luar.
Há
quem veja esse rio repleto de lágrimas, de histórias sofridas. Há quem apenas o
veja com declives, pejado de pedras rolantes, frio, apressado, que correndo
para a meta quase revela uma cascada para onde caiem os sonhos, as esperanças,
os desejos, a confiança.
Pobre
rio, penso ao olhá-lo, que incompreendido és…
Navega
na sua placidez até que uma vida mais tempestuosa o agita, turva-lhe as águas e
afoga nele os seus medos. Procuramos culpados para as nossas culpas, perdidos por
entre os labirintos humanos, baixamos os braços, deixando que o rio feito de
tempo navegue e nos conduza ao longo da corrente. Por vezes sufocado pelas
margens dos nossos condicionalismos morais, sociais, educacionais mas também isso é apenas uma desculpa, uma tábua a
que nos agarramos evitando a morte certa de tudo aquilo que somos.
Há
quem tenha forças para ir mais além, verdadeiros heróis que tentamos sem
conseguir, imitar. Aqueles que não temem a morte, essa morte que permite o
renascimento. Sair da sua área de conforto, sair do rio, mergulhar em pleno no
mar, afogando-se no peso da sua história construída como o cimento de toda uma
vida de padrões, de grilhões herdados do ontem e carregados ao longo dos ‘hojes’
transportados por outros tantos ‘amanhãs’.
É
cada vez mais necessário libertar-se, vir à tona da água e respirar o ar fresco
de quem encontra outro caminho que abraça como seu.
Imagino
o tempo nessas águas onde sou barco por vezes à deriva, por vezes remando com
todas as forças da fé, outras sonhando que tenho o motor e vou mais rápido mas
sem pressa. Afinal beleza do tempo está no nosso modo de o olhar, se o olhar a
partir do rio só vemos o sufoco das margens mas, se for partir das margens,
conseguimos ver o tempo/rio tal como é no deslizar suave das águas. Cada cabelo
branco, cada ruga é consequência do seu
embalo.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Chovia de alegria
Não sei se de tristeza ou alegria.
O céu em tom de profecia,
Olhava-me do alto e não sorria.
Quando nasci era manhã,
Minha mãe em estranho afã.
Com tanto ainda por fazer
Antes de me fazer nascer.
E eu buscando a luz,
Que ainda hoje me seduz,
Como se uma vida de escuridão
Me toldasse já o coração.
Mas a magoada profecia,
Que me acompanhava noite e dia,
Anos depois se desvaneceu,
Quando o meu sobrinho nasceu.
No dia do seu nascimento, chovia,
Não de tristeza, mas de alegria.
Eram lágrimas minhas e do céu,
Que cada um em amor lhe ofereceu.
domingo, 17 de setembro de 2017
Post.it: O segredo dos segredos
O segredo do perdão é olhar sem julgamento
O segredo da fé é não esperar por provas
O segredo da saúde é sentir e manter a
alegria
O segredo da força é fazer vencer a
vontade
O segredo do amor é amar com inteligência
O segredo do destino feliz é ir pelo
caminho positivo
O segredo da paz é encontrar em si o
equilíbrio
O segredo da harmonia é observar a
natureza
O segredo da beleza é ver com o coração
O segredo dos sonhos é tentar
concretizá-los
O segredo do caminho não é a meta mas a
viagem
O segredo de um bom dia é cuidar dele de
manhã à noite
O segredo de obter respeito é saber
respeitar-se
O segredo da escuridão é que ela permite
ver as estrelas
O segredo da chuva é que faz renascer as
flores
O segredo da vida perfeita é apreciar tudo
o que ela nos dá
O segredo dos segredos é estar atento para
os descobrir
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