Noutro
dia ouvi alguém dizer que detestava a palavra saudade, soou-me estranho, contraditório
com o povo que somos, tão agarrados à sua concepção.
Mas depois, deixei os
pensamentos navegar e comecei a sentir que também eu detesto a palavra saudade,
essa expressão que nos seduz e de imediato nos aprisiona, a um momento, a um
passado que nos deixou boas e más recordações.
Mas
também uma outra saudade, que se torna a nossa segunda pele, quando ficamos
incapazes de a despir, de afastar de nós os sonhos que sonhamos mas que não
realizamos. Quanto tempo perdemos nesse mergulho de fantasia, quanto tempo
ficámos sem ver a realidade, sem respirar a verdade que nos rodeava?
Depois
caímos nos queixumes de que o tempo voa, que não sabemos para onde ele foi, que
não demos conta de por nós passar.
Até
aqui, nada de novo, afinal faz parte de nós, povo da beira-mar, deixarmos o
pensamento velejar e, nesse erguer das velas com o pano da esperança, deixar que
o vento nos venha de feição e nos conduza até ao nosso destino.
E
a saudade, quer se goste ou não, está-nos entranhada no ADN, em cada célula de
vida que nos mareia o corpo, como se fosse um barco condenado a viajar-nos. Nós, com passos deambulantes, entre o paraíso e o inferno vamos levando os nossos
dias, as nossas noites de insónia e escrevendo, na estrada de tantos caminhos, a
mesma palavra, o mesmo sentimento que não queremos lembrar mas tememos esquecer.
Saudade, apenas te peço: se não podes mudar de nome, muda pelo menos de destino!
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