Queria
construir jardins feitos de tinta, uma tinta que
não pinta mas escreve e descreve a aura da emoção. Queria fazer flores,
oferecer amores em tons de primavera em ternos odores, mas, eu que apenas
escrevo, ou melhor, tento escrever, acreditando que pelas palavras consigo dar
um pouco de mim, sinto e sei nada mais faço do que míseros rabiscos sobre as
linhas.
Rabiscos
que parecem, ou melhor que quase, mesmo parecem, palavras. Tão simples, tão
banais, mas também elas têm de passar pela mudança, uma quase transformação
onde ainda me sinto aprendiz e criança, o papel passa a ser um ecrã e a caneta
é uma tecla.
Felizmente
ainda há dedos dedilhando e aquecendo a frieza do teclado. Felizmente ainda há
a mão ponta do caminho que começa suave no coração para que possa desenhar
jardins e que nele cresçam flores. Para que cada semente em forma de letras
cresça em árvores com doces emoções que embalam o fim das tardes.
Por
fim, quando os sentidos se desligam das máquinas e são novamente humanas,
frágeis, sensíveis, quando libertam olhar prisioneiro desse plano direito e
estático, podem, então, abrir as asas e
voar sem receio, pelos contornos do horizonte.
De
vez em quando, é preciso, ser-se pessoa e viajar pelos caminhos da alma, ser
mais do que estatística, ficar mais do que estática e, ouvir os passos ao
compasso do coração.
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