O outono bateu-me à porta, vinha
suave, tímido, como um namorado arrependido. Não foi uma chegada mas um
regresso, afinal, quantos outonos já conheci? Muitos, começo a somá-los,
devagar, porque a dada altura da vida, já não se tem pressa, chega-se lá é a
nossa cada vez maior convicção e por lá entenda-se a um destino que por vezes
existe paralelo aos nossos desejos.
No entanto, outono, o nosso outono,
acrescenta em nós uma gratidão que nos era desconhecida nos áureos tempos de
natural rebeldia. É normal, faz parte, de se começar a “crescer”, porque é isso
que sente, um crescimento prazeroso.
Uma amiga que tenho sempre bem-humorada,
começou a ganhar alguns quilinhos mais, fez dietas, todas as que ouviu na rádio,
na televisão, na internet, fechou a boca, bebeu litros de água, por fim, reflectiu
e desistiu, “não estou gorda, estou é cheia de sabedoria!”.
Quem me dera ter a sua sabedoria
humana, a sua capacidade de caminhar sobre as folhas de outono sem as
amachucar, com a leveza da sua cordialidade.
O outono bateu-me à porta, abri-a
devagar com receio que as promessas de fidelidade, de carinho, de
companheirismo não fossem cumpridas e que as folhas voassem no primeiro sopro
de vento e ele entrou, sentou-se na minha sala com um sorriso renovado,
pediu-me esperança e eu voltei a acredita, pediu-me confiança e eu confiei.
Como negar-lhe que entre, que fique e
que faça da minha vida a sua terna morada? Somos cada época, cada estação,
florindo, rejubilando de sol, somos folhas que caiem para que se possam
renovar, somos frio, vento e por vezes chuva, para que tudo comece, recomece,
renasça e volte a ser com promessas mesmo que não cumpridas o melhor de nós.
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