As palavras, ai as palavras, sempre as
palavras, não as que escrevo, mas as que gostaria de escrever, essas que fazem
voar como se tivéssemos asas, não são minhas, apenas me saem da boca, do pensamento, do sentimento.
Por vezes, agarro-as, prendo-as na voz
com laços de suspiro, mas elas desprendem-se num sorriso e partem. Depois, fica
um silêncio que magoa, uma saudade crescente. Porque, sim, gosto delas, sinto
que algumas, chegam, também, a gostar de mim. A abraçar-me e num atrevimento
que me surpreende, roubam-me um beijo num gesto de brisa. Ruboriza-se-me o
rosto, escondo o embaraço, mas não me ofendo.
Gosto delas, tanto ou mais do que elas
gostam de mim. Só me entristece que nem sempre as encontre, que me deixem só
perante a folha em branco, o pensamento vazio, o horizonte replecto de um
estranho nada.
Porque sem elas, que importam as
flores, as ondas do mar, as montanhas, os prados cobertos de relva, o sol
radiante, a chuva pungente. São elas que me fazer ver e sentir tudo o que
existe em meu redor.
São elas que me fazem navegar na orla
marítima, correr pelas verdes planuras, saltar riachos, atravessar pontes,
romper a linha do horizonte e adormecer feliz numa duna com lençóis de maresia,
mesmo que sejam apenas por palavras de sensações, algumas apenas sonhadas e
nunca vividas.
Nos dias solitários murmuro-as no
vento e ouço-lhes o eco que segue rumo ao infinito. Invejo-lhes a liberdade,
elas que já sofreram milenares prisões. Continuam a ser humildes, tímidas,
retraídas, por vezes até inseguras, outras vezes envergonhadas, mas também são
corajosas, arrojadas, destemidas, valentes, tudo o que queria ser e, reconheço,
não sou.
Estremeço de medos infindos,
escondo-me nos armários das emoções e choro, sim, por vezes, demasiadas vezes,
choro, lágrimas inexplicáveis aos olhos, à razão. Elas são melhores e maiores do que eu, erguem
bandeiras, ultrapassam fronteiras, chegam à lua e dançam com as estrelas.
Por vezes sinto que as tenho nas mãos e
fecho-as com receio de que fujam, mas logo elas numa gargalhada intrépida
revelam que não estão nela mas sim no
coração e eu, por fim, descanso, enquanto as sinto a ser-me.
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