
Ouço os meus amigos a falar de
política e o meu pensamento voa pela copa das árvores, ou por voos rasantes
sobre o mar desafiando a crista das ondas. Mergulho de tal maneira nesta
espécie de fantasia que por vezes até dou por mim a sorrir, o sorriso de quem
não está presente nas discussões sobre o aumento dos impostos, sobre as guerras
nacionais e internacionais. Sobre as privatizações empresariais, os créditos
malparados, etc, etc, e muitos etc. mais. Sou completamente desligada, não por
falta de interesse, não é que não me importe, que não me doa quando mão alheia
me entra no bolso e “rouba” sem prévio aviso o parco pé-de-meia que vou
guardando para velhice. Quem não teme pelas consequências normalmente funestas
de uns e de outros e que de um momento
para o outro podem virar as nossas vidas do avesso. A verdade é que vivo no
aqui e agora, ainda que aparentemente fantasioso, fico cada vez mais distante
do passado, cada vez menos ansiosa com o futuro, só o agora me importa. E agora
apetece-me voar com o olhar para horizontes mais soalheiros. Quando os meus
sentidos regressam à mesa do café, ouço apenas um silêncio aterrador, quase
reprovador, por fim alguém questiona – E tu o que achas? – O que acho, sei lá,
não “pago” aos deputados para defenderem os meus interesses? Não elegi um
ministro e um presidente para melhor servirem o meu país? Cada um que cumpra a
sua função, tal como eu como cidadã cumpro as minhas! Mas os meus desabafos
ficam para a escrita e mesmo nela sempre encontro um sentido positivo para
quase tudo.
Mais uma vez, tenho a sensação de
bocejo do leitor que mesmo sendo amigo, não deixa, talvez de enfadar-se. Imagino o seu sussurrar contestante
“Deixa lá de ser uma Virgem Maria sem altar, espevita esses neurónios, acaba
com essas balelas de generosidade, de amor ao próximo. Tira do rosto esse
sorriso conciliador, cala de vez essas palavras de esperança. Esse copo que
para ti parece sempre cheio enquanto para mim está sempre vazio”. E num rasgo
de quase malícia, acende centelhas de ténue sarcasmo “se eu fosse governo
havias de pagar imposto só por te armares em boazinha, em benevolente e
positiva, isso lá existe?” Ou existe?
De repente a dúvida. Por essa dúvida,
mas só mesmo por ela, vale a pena continuar a estar aqui, a criar bocejos
nuns, algum motivo de interesse para outros. No entanto, não vou cansar a voz,
não vou gastar as palavras, só para te convencer de algo que não aceitas. Um dia
o descobrirás (suponho/desejo) se
voltares aqui, é porque já o descobriste, então vem, mas traz contigo as asas
do sonhar, do acreditar e vamos ser um bando de pássaros à solta, libertos do
peso de ser infeliz. E respondo ao teu bocejo “Quem me dera que a infelicidade
pagasse imposto, aposto que todos tentaríamos verdadeiramente, ser felizes”...
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