Mas
a lembrança que me ficou mais marcante sobre
aquele Pomar e que me deixou um rasto de infância pela vida fora, foi a forma como o
meu olhar se encheu de flores, de cores, de cheiros, de sensações que me invadiam
o peito e que me dançavam e dançam, no pensamento.
Aquele
Pomar de árvores frondosas, carregadas de frutos. Aquelas terras que se
estendiam para lá do horizonte, desenhando um caminho de infinito que chamava
por mim, como se para lá fosse o meu destino. E por ele segui quando para trás
deixei aquele Pomar de perfumadas maças, que ainda hoje me exalam nos sentidos.
Por vezes fecho os olhos e ainda ouço as águas do riacho a correr, ainda ouço o
riso alegre dos meus amigos enquanto saboreavam as maças roubadas e relatavam à
sua maneira a grande aventura. Não nos imaginem já o pronuncío de futuro de marginalidade
porque posso garantir cada um de nós trilhou pela senda de bons e exemplares
cidadãos. Mas tínhamos os nossos momentos de pequenas/grandes peripécias
infantis.
“Nunca
voltes aos locais onde foste feliz” diz a sabedoria popular, mas teimosamente
quis contrariar esta expressão e voltei…
Já
lá não estava o velho de olhar frio mas de coração quente, aliás, ninguém se
lembrava dele. O pomar pareceu-me pequeno, as árvores muito mais baixas, tão
baixas que quase parecia absurdo alguém cair delas. “O Pomar não encolheu, tu é
que cresceste”, confirmaram o que já sabia, mas duvidava na observação.
Vi
o seu limite tão finito, fiquei triste, como se me tivessem roubado um pouco da
infância. Com pressa meti-me no carro, acelerei, fugi daquele lugar, antes que reencontrasse
outras memórias e a realidade do agora as rasgasse da minha lembrança, como se
fosse um papel amarelecido e sem valor que se podia deitar fora sem antever a importância
pessoal de cada linha que o tempo nele escreveu.
Parti,
não olhei para trás tentando guardar a certeza de que o passado continuava lá para
preencher de vez em quando o meu presente e quem sabe para um dia o contar ao
futuro.