Há
quanto tempo que sou apenas eu e a minha sombra, vejo no horizonte outras
sombras, tento encontrar a consonância dos contornos, o encaixe de essências, o
encrave de células ou apenas a descoberta de sonhos comuns. Procuro uma sombra
paralela, que caminhe comigo, que se eternize pelo luar da noite, pelo nascer
dos dias. Até ao momento em que o sol no seu jogo de luzes, me rouba a sombra
que supus, completar a minha.
E
o céu nocturno, companheiro, ouvinte dos meus silêncios, vai desenhando outras
sombras, para me iluminar o coração. Rejeito todas, prefiro por a companhia,
apenas a minha sombra. Mas eis que o
peito já me trai, e o olhar já se estende, o sorriso já se me aflora, por essa
sombra que se aproxima, replecta de suaves promessas, desenlaço os braços,
estendo-os em abraços, com um convite para que entre na enseada do meu ser. Um
apelo para que caminhemos lado a lado, um desejo que unamos as sombras e
redesenhemos a felicidade da vida. Mas ela não se detém, cruza a sua sombra com
a minha e, continua o seu percurso como se lhe fosse indiferente. Apenas uma
sombra vazia de conteúdo, sem possuir uma vida anexada.
Volto ao meu passeio no luar da noite, arrasto
a minha sombra pelas ruas vazias. Enquanto no peito transporto, a longa nostalgia
derramada. Mais uma vez não foi aquela, a sombra que se tornou una com a minha.
Nem foi a sombra que me acompanhou num destino paralelo ao meu.
Restou
a saudade daquela sombra mais sonhada do que vivida, aquela sombra oblíqua.