Onde
nascem as palavras? Nos livros apressa-se alguém a responder. Porque é assim
que a nossa memória imediata funciona, no agora, esquecendo-se que houve um
antes. Esse antes, quando nasceram as palavras. Mas onde? Continuei a inquirir,
onde nascem as palavras?
Não questionei por ignorância mas por curiosidade.
Porque bem sei que as palavras sempre existiram, desde que romperam o silêncio
da oralidade e muito antes quando puseram fim ao silêncio do pensamento e do
sentir.
Quando se juntaram a outras para expressar uma vontade, um desejo, uma
dor, uma tristeza, uma alegria. As palavras nasceram dentro de nós, quando o
choque de neurónios produziu um relâmpago e a trovoada ressoou na nossa voz.
Era apenas um som sem aparente significado mas que passou a significar muito
quando foram recebidas e amadas por um receptor atento e ávido delas. Então as
palavras deixaram de ser palavras, passaram a ser sentimentos. Claro que
expressos por palavras, escritas, lidas, ouvidas, sentidas, mas de repente
todos esqueceram a origem das palavras para ficarem apenas atentos à sua
mensagem.
As
palavras, na árdua tarefa de conjugar letras para formar frases cada vez mais
elaboradas, refinadas, eloquentes, eruditas, perderam-se muitas vezes algures
entre a razão e o coração e sendo as mesmas desde há milhares de anos,
concluímos um dia que por vezes é preciso reaprende-las e mesmo entendê-las no
seu silêncio. Lá, onde nascem as palavras.