E
o sono não vem e o sonho não adormece e a alma não esquece. Sem sol nem luar, esta
noite sem acordar não acontece. As horas continuam a tardar, num passo lento
que parece não ter onde chegar.
Porque
a noite tem longos dias, em que mergulha nas maresias de um oceano cada vez mais
infinito e é eterno o seu silencioso grito, múrmuros de lamento, que esvoaçam
no vento, qual gaivota que busca terra segura onde encontre uma duna de
ternura.
E
cintilantes, as estrelas, perscrutam por entre as janelas, em busca de uma entreaberta, onde encontrem a felicidade certa. Mas as ruas estão cheias, estão
cheias de solidão, nelas não se encontra o mais terno coração. Se ao menos o
sono viesse dar-me o seu encanto, se ao menos a chuva não soubesse a pranto, a
alma voaria e o dia nasceria depois
de uma noite na esperança enlaçada, longa, tão longa, de tão ansiada.
Que entre feliz e amargurada, que se delongue
pela madrugada.
Porque longos são os dias
que me deixam acordada, nessa espera que demora, não chega, não se vai embora e
me deixa sem nada, nem uma noite descansada.