Quando lhe
perguntavam a idade sorria e respondia: – Muitos! já estou a dever anos há
vida. Deparara-se com a morte algumas vezes, depois do primeiro susto, do
segundo, do terceiro, passou a encará-la com naturalidade.
– Quando ela chegar
cá estarei à sua espera.
Tínhamos
longas conversas numa delas disse-me.
– Por vezes pensamos que já chegámos
aqui, já passámos por tudo, já vimos de tudo, já chorámos o bastante e rimos
outro tanto.
Podemos
sentir que se passamos a viver a vida com a tranquilidade dum rio a fluir enquanto
nos deixamos simplesmente ir. Mas de repente algo desperta-nos desse doce
torpor e surpreendentemente sentimos que ainda temos muito mais para sofrer,
para ver e sentir.
O coração que
se habituara a navegar sente-se magoado, ferido na sua delicadeza. Como dói a
injustiça, a incompreensão, a sensação de que se dedicámos em vão a momentos
que nos pareciam bonitos, duma jovialidade luminosa.
Roubados no
nosso ideal sentimos que nem que se vivamos 100 anos haveremos de compreender a
complexidade humana.
Que fazer? Pergunto-lhe.
– Deixar acontecer, aceitar, recolher-se e navegar porque, viver é preciso.
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