O
inverno já espreita na janela numa chuva copiosa, talvez com saudades de um
verão que se despediu precocemente. O vento bate furioso na porta como se
tivesse pressa para entrar em busca de um Outono brincalhão que se esconde por
entre as folhas das árvores. Quase cedo à tentação de o abrigar , de o proteger desse Inverno que
nos quer entrar pela vida a dentro, afinal ainda estamos em Novembro, e cada
estação no seu tempo, penso com um sorriso maroto enquanto me instalo no sofá.
Sabia-me bem uma lareira acesa, mas vou ter de contentar com um cobertor
quente. Sabia-me bem um chocolate a escaldar mas esqueci-me de o comprar, por
isso vou ter de me contentar com um chá menos confortante mas que dá para
enganar o corpo febril.
Sabia-me
bem abrir um livro e sentir-me acompanhada por uma bom e clássico romance, mas
já li e reli todos os livros da minha estante, além disso não conseguiria ler
com os olhos lacrimejantes, o pingo no nariz e esta tosse que não me dá
tréguas. Aborrecida, acendo a televisão, desligo-a logo de seguida, não me
apetece ver contínuas repetições.
Por um momento, um rápido momento quase que me
deixo levar por um rio de queixumes prestes a correr-me do peito.
Mas
decidida a não me deixar abater por meros pormenores, resolvo tornar o meu domingo
perfeito, agradeço o conforto do meu humilde lar, a companhia reconfortante de
um cobertor, um chá fumegante e de Chopin a encher de poesia musical cada
recanto da minha sala, sim porque nenhum domingo de quase inverno é perfeito
sem Chopin.
Quando
o domingo anoitece sinto que apesar da constipação, apesar do frio, da chuva,
da ausência de um chocolate quente, de um livro, de um filme na televisão, foi
um domingo perfeito.
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