Às
vezes, ao escutar a conversa das crianças, questiono com alguma nostalgia, por onde se perdeu a singeleza
das palavras e das ideias mais puras? Quando começámos a compor verdadeiros
enredos de uma curta-metragem para a mensagem que queremos transmitir? Porque
criamos tantos argumentos para explicar o óbvio? Porque caminhamos em círculos
quando a recta sempre foi o trajecto mais curto?
Devíamos
reaprender com as crianças a fórmula mágica de dizer o que sentimos e dessa
forma chegarmos directamente ao entendimento que desejamos, sem discussões, sem
falsas modéstias, sem indirectas. Explicamos e voltamos a explicar sem no
entanto conseguirmos chegar ao âmago da questão. Na maior parte das vezes não
se trata de uma questão profunda, de resolução difícil, mas complicamos o
simples na tentativa falhada de a tornar mais clara e evidente. Evidente para
quem? Para nós, sem dúvida alguma, porque para o nosso interlocutor cada
explicação só gera mais confusão.
Ossos do ofício dirão os professores,
habituados a ensinar. Raciocínios fundamentados dirão os filósofos, habituados
a divagar. Tudo em prol da justiça e da verdade dirão os advogados, habituados
a arguir. Ou simplesmente os teimosos, convencidos, em suma, chatos, habituados a impor as
suas ideias que já ninguém consegue ouvir. Porque não é a sua verdade, porque
não é a sua opinião, porque não entendem, porque não são entendidos.
Então,
caímos num silêncio magoado, já nada conseguimos dizer, já nada queremos
escutar.
Olhamos
para as crianças, num misto de surpresa e inveja, porque elas com um
vocabulário reduzido conseguem atingir o seu objectivo, conquistar a sua meta,
sem violência, sem gritos, sem lágrimas. Como? Questiona a nossa mente formatada
pela condição de adultos. Talvez com um sorriso, um encantador sorriso que nos diz
tudo o que o coração precisa de saber.
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