Uns
falam com as pétalas, outros com o mar, com a noite que parece infinita quando
o sono não chega para lhe fazer companhia, falam com os seus pensamentos, com
as suas recordações, sobretudo com a solidão. Falam do que se lembram com
receio de esquecer, falam do que esqueceram para vencer o vazio de lembranças.
Falam,
falam da crise, falam dos filhos que não vêm há muito tempo, do cônjuge que
partiu sem reterem a data exata, foi num dia triste, repetem com voz longínqua,
porque os anos vão formando uma ponte de saudade dentro do peito.
Falam,
mas cada vez mais ficam em silêncio, porque ninguém os quer ouvir, afastam-se
cansados da repetição das mesmas histórias, vezes e vezes sem fim. Impacientes
de seguir em frente, deixam-nos cada vez mais, para trás. Eles nem notam, não
têm noção de tempo, dizem, sem certezas, querendo desculpar a falta de tempo,
de vontade para escutar, para se sentar ao seu lado e ouvir uma lembrança que o
tempo vai lapidando e a nostalgia vai colorindo. Por isso falam com as pétalas,
com o mar, com a noite, enquanto o sono não lhes dá outras histórias para
sonhar e sentir por um breve momento que é a sua realidade. Quando o sol os
chama, respondem num torpor de esperança e dor, caminham para o jardim, para
aquele banco, quem sabe hoje alguém os queira escutar, não que isso importe, há
sempre uma flor, um pombo, uma folha caída à sua espera para lhes fazer
companhia e escutar, talvez a história de sempre, contada, recontada, por vezes até, reinventada
só para espantar a solidão.
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