Enquanto
a Morte dormia, a Vida nascia, crescia, irrequieta, saltitante e feliz. De vez
em quando, perante uma voz mais sensata de mãe, parava, questionava e
prosseguia no seu fervor de juventude.
Cansada
da Rotina e da Sensatez, amigas de longa data, que inúmeras vezes a mandavam
obedecer à Razão outra amiga mais serena e ajuizada, a Vida pensava travessa e
obstinada, qual será o problema de acordar a Morte? Que ela resmungue como uma
velha de mau humor? Ora que disparate! A Vida não temia lamurias. Então
desafiava a Morte, pé-ante-pé, abanava-a e, como nada acontecia de terrível,
voltava a aproximar-se, espicaçando a sua indolência. Tornara-se um jogo
divertido. Claro que, não ficava sempre isenta de mágoas e de marcas, umas
esfoladelas, aqui, umas quedas ali, mas a Vida rapidamente esquecia, afinal era
jovem. Tinha uma energia que nem a Morte, velha e cansada, lhe podia roubar.
Até
ao dia em que viu a Morte tal como ela era, grande e dominadora. Incapaz de a
deter, a Vida tentou fugir, mas a Morte correu mais rápida. Surpreendida
perante tanta agilidade, a Vida, tentou tudo, prometeu que iria portar-se bem,
pediu-lhe desculpa por todas as provocações, implorou uma segunda chance. Mas
nada resultou, então a Vida, olhou a Morte com humildade, sorriu-lhe sem
revolta, estendeu-lhe os braços para receber o seu definitivo abraço. Por fim,
a Morte compadeceu-se, olhou a Vida e enterneceu-se-lhe o coração. Para aviso,
já bastava, afastou-se suavemente e deitou-se de novo na sua cama de nuvens. A
Vida suspirou, agradeceu e continuou o seu caminho, desta vez com cuidado para
não despertar a Morte que de novo dormia.
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