Podemos
dizer adeus mais de uma vez. Tantas quantas o coração o permitir. Tantas
quantas o rumo da nossa vida o conduzir. Tantas quantas os desencontros o
redefinirem. Tantas quantas as venturas nos levarem para novos futuros, novos
projectos. Mas o que nos define é o antes desse adeus, antes de partir, de
mudar, de começar ou recomeçar. Porque é mais cómodo ficar, porque é mais
seguro permanecer, porque temos medo do desconhecido, adiamos, protelamos a
vida numa gaveta onde escondemos os sonhos, por medo de os sonhar. Estreitamos
os objectivos, dilatamos as metas. Esboçamos um sorriso quando nos lembramos do
tempo em que desejávamos tudo para ontem, quando ambicionávamos que tudo acontecesse
no hoje. Quando podíamos deixar para amanhã. Porque havia sempre um amanhã,
esse que se estende num tempo, que se derrama sem termos dele percepção. Encontramos cada vez mais requintadas formas
de conformismo. Até que num momento, num impulso de arrojo, abrimos a gaveta e
permitimo-nos sonhar de olhos abertos.
Porque
nesse dia descobrimos que podemos dizer adeus mais do que uma vez, mesmo quando
dizer adeus nos magoa. Uma dor que nos ensina a suplantar cada obstáculo. Tudo
passa, sussurra-nos o vento dançando nos nossos pensamentos, acariciando-nos os
sentimentos. Tudo passa, porque somos feitos de tempo, de coragem, de alento.
Do primeiro fôlego ao último suspiro.
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