Ouço cada expressão que me deixa (atónita), boquiaberta, estupefacta, perplexa, admirada, abismada, acho que já gastei todos os sinónimos da minha surpresa. Mas até gostei da expressão depois de a visualizar na mente. Do meu pensamento adquirir a forma rechonchuda, pesada, tranquila, forte.
Algo que permanece no tempo, que amadurece sem pressa. E depois, há a sua cor, algo indefinida, sem ser vermelha nem amarela mas a junção de ambas numa combinação harmoniosa que conseguiu conquistar solidamente a sua autonomia.
Mas em que se aplica a sua forma e a sua cor num exemplo de vida? Em que se assemelha no dia-a-dia stressante que vivemos? Talvez como um grande sábio do tempo, de que não vale a pena correr porque devagar também lá chegamos e com menos cansaço, ou com a aceitação feliz de que não somos únicos, nem o melhor, nem tão pouco o exclusivo, mas apenas um, entre tantos a construir o mesmo, a cumprir a mesma missão de viver.
De ser apenas o degrau mas não a escada, de ser a gota de água mas não o mar, ser a pedra mas não a montanha, e assumir esse papel com a consciência da sua importância, grande ou pequena, mas sua parte essencial.
E se não for agora, hoje, amanhã ou depois, será quando for, para nos dar tempo de sentir a ternura do vento, de observar a beleza da chuva, a luz do sol, a plenitude da vida.
Se não lhe sentir o sabor, se não viver o prazer do instante, ele passará veloz e um dia ao olharmos para trás teremos deixado de viver os pequenos momentos em busca dos grandes que nunca o chegaram verdadeiramente a ser pela exigência das nossas expectativas. Então, passamos a repetimos frases cansadas, teorias esgotadas: “o tempo voa”, “A vida é breve”, etc., etc.
Deixe aboborar, viva com calma sentindo o prazer dos dias, mas não ceda à tentação de murchar quando ainda pode florescer para uma nova primavera.
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