Voltei
ao mar para vir buscar a minha lágrima. Uma lágrima que um dia perdi quando era
menina e era feliz sem o saber. Pedi ao mar que a devolvesse, mergulhei,
naveguei, esperei no cais, mas não a encontrei. Perscrutei todas as ondas,
colhi cada gota de água mas nenhuma era ela. E o mar riu-se de mim, da minha
fracassada busca. E num eco ondulante a sua gargalhada entrou pelas grutas das
rochas e ressoou na minha tristeza.
Como
a distingues de todas as outras? Perguntou-me o vento. Respondi-lhe com clareza,
- A minha lágrima era doce e todas as outras são salgadas. A minha lágrima era
quente e todas as outras são frias. A minha lágrima tinha o meu reflexo nela e
estas refletem apenas o mar. Também o vento se riu de mim, e entre gargalhadas
disse-me “ A tua lágrima misturou-se com as outras lágrimas que alguém como tu
a “abandonou”. Desesperado o coração quis gritar-lhe, “Não, não a abandonei,
caiu-me dos olhos quando andava a brincar no meu olhar.
Então
houve um silêncio, até o mar se tornou murmurante, e o vento sussurrante,
enquanto da minha alma saia uma voz clamante “ Sinto saudades da minha lágrima,
preciso dela, não para chorar mas para rir, rir de felicidade. Porque ela era a
minha última gota de infância, sem ela já não consigo sonhar. É a minha gota de
esperança, sem ela já não consigo acreditar.
O
mar que parecia calmamente escutar, de repente como que enfurecido, elevou-se
numa imensa crista de espuma e nesse instante saltou dele uma gota, vinha
quente, vinha doce, refletia o meu rosto da menina que outrora fui. Era a minha
lágrima perdida, recolhi-a na mão e como duas grandes amigas partimos de mãos
dadas pela praia fora partilhando confissões e recordações. O mar acenou-me um
adeus. Já com saudades da minha lágrima pediu-me para voltar e eu prometi-lhe
que voltaria, voltaria para chorar, mas sobretudo para rir. Não pensem que o
mar ficou mais pobre ao perder uma
lágrima, porque ganhou uma amiga.
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