Hoje não me
apetece escrever. Já tenho lido que isto acontece com todos, ia dizer,
escritores, mas não me considero como tal, por isso, é mais correcto dizer que
acontece a quem escreve. É a famosa branca, preguiça dos neurónios, vazio do
sentir.
Talvez seja bom descansar o pensamento, relaxar o olhar. Mas a verdade
é que me inquieta esta quietude, ver a inércia da caneta sobre a mesa,
angustia-me a visão da folha branca, magoa-me o vazio em que a alma se
prostrou.
Será um estado de longa duração, quiçá perpétuo? Será indício de
doença, ou quem sabe de cura deste quase vício diário de escrever.
Depois penso
em ti, como vais saber de mim se a minha escrita emudecer e o silêncio for a
ausência de uma ponte entre as margens da nossa vida.
Tolice,
vaidosa pretensão a minha imaginar-te em suspensão do meu alento de palavras.
Como se tivesses descoberto que escrevo para ti, só para ti, estendendo um
abraço neste encadear de letras mal ordenadas que ultrapassam a distância seja
ela qual for.
Mas hoje não
me vais ler, porque hoje não me apetece escrever, tenho o peito cansado deste
frio, desta espera que me vai invernando o coração. Talvez acenda a lareira.
Talvez me enrole num cobertor, talvez durma, talvez sonhe que tudo isto foi um
sonho nunca perdi a vontade de (te) escrever.
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