“A
vida é uma derrota”, diz o Homem centenário, que só por isso merece o meu
respeito e admiração.
Só
por isso, porque eu, que ainda não cheguei ao topo da montanha existencial que
define a esperança média de vida, digo com plena convicção, que a vida é uma
conquista.
Claro
que não esqueço o aviso de Camões na voz do Velho do Restelo, “cuidado com as
vitórias porque podem redundar em derrotas”.
É
possível que sim, diz-me o bom-senso, mas “vale sempre a pena, se a alma não
for pequena”, recito mentalmente, porque, afinal, temos sempre que dar esse passo
rumo ao futuro, mesmo que não consigamos alcançar todas as nossas metas. Vale a pena, pelos
sonhos que cada momento nos fez sonhar, pela alegria que nos fez sentir, pelas
asas de esperança que nos permitiu voar.
“Tudo
o que a gente faz é um pronúncio de derrota”, insiste o Homem centenário,
aquele que já viveu muito, que já alcançou muito, que já travou as suas
batalhas, que já perdeu muito.
Perto
dele, sinto-me uma adolescente contrariando teimosamente os seus conselhos,
esquecendo quase de imediato os seus avisos, talvez, sábios, e prosseguindo na
senda do perigo, na rota dos meus ideais.
Então
o Homem centenário, percebe que não pode evitar as minhas quedas, que não pode impedir
os meus fracassos, nem tão pouco antever as minhas vitórias, estende-me um
sorriso de incentivo, oferece-me um olhar de dúvida, quem sabe a minha escolha
não me leva para caminhos que ele, Homem centenário, nunca conheceu. Por fim
acena-me um leve adeus de partida, sem acreditar no regresso. Fica a ver-me
desaparecer no horizonte, sem uma palavra, porque a única que lhe quer sair do
peito é de inveja, inveja pela minha teimosia, que também ele já teve.
Inveja
por não ser mais novo para também ele desafiar o tempo, derrotar a dúvida e
obter a certeza de que a vida será sempre “uma vitória”.
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