Fui
amiga de uma Oliveira, e ela foi minha companheira e confidente de fortúnios e infortúnios.
Nesse tempo não tinha o mar onde afogar as minhas mágoas, apenas uma planície por
onde se derramava o olhar e de vez em quando uma lágrima adolescente que ainda mal
começava a desvendar os caminhos do coração.
Nos
longos dias em que os desenhava nas nuvens para depois os seguir num sopro de
vento. Poucas coisas entristeciam o espírito rebelde que se deleitava nas searas
depois de ceifado o trigo. Poucas histórias toldavam a alma juvenil que se
balouçava naquela velha oliveira que já não dava azeitonas, com uma sombra cada
vez mais diminuta, com raízes a sair da terra, como se quisesse dizer “está na
hora de partir” mas ficava. Ficava porque havia sempre quem buscasse nela algum
consolo. Ficava porque não conseguia fechar os braços àqueles abraços que
pareciam não ter outro alguém a quem abraçar, outro alguém a quem contar a
causa do seu desgosto ou desabafar a sua secreta alegria, e que no seu tronco
de uma resistência ancestral desenhavam corações com duas iniciais, talvez com
fé de que ela lhes desse um pouco da sua perpetuidade, da sua solidez. Quantas dessas
vidas cumpriram a esperançosa promessa, quantas permaneceram apenas nessa marca
que o tempo não apagou nem as intempéries causaram alguma erosão.
Também
eu lhe pedi para não partir, quando ela tentava novamente soltar-se da terra. E
ela ficou até ao dia em que fui eu parti.
Não
sei se ainda lá estará, na sua ilha de horizonte. Imagino-a protectora de outros
corações no infinito ciclo de gerações.
Apenas
sei que permanece em mim, com raízes de lembrança que nunca poderão partir.
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