“Desiste,
esquece” E eu quase desisto, e eu quase esqueço, mas de repente vindo do nada
sobe-me pelo corpo uma vontade de te abraçar, de te reter, de te aprisionar na
minha vida, no meu querer. “Esquece”, repetem-me as vozes conselheiras, “esquece”
grita-me a razão plena de sensatez, mas a memória teimosamente guarda-te num
qualquer recanto de mim. E como desistir de todos os sonhos que me fizeste
sonhar?
Muitas
vezes parece que desisti, parece que te esqueci, mas cai uma folha e vens-me à
lembrança, por todas aquelas folhas que já vimos cair. Passa uma nuvem e lembro-mo
de todas as que um dia desenhámos no céu. Até aquele murmúrio de mar quando
beija a rocha tem o som da tua voz, segredada nos momentos mais nossos.
“Desiste,
esquece”, continua a Razão a insistir para contrariar a dolência do coração.
“Vocês nada têm em comum” insiste para derrotar com a sua a minha teimosia de
te lembrar. É verdade, reconhece a alma, é verdade confirma a consciência.
Então o que me prende a ti, o que me impede de voar para lugares mais
tranquilos?
E
sem encontrar resposta prossigo no dilema. De súbito, do nada, ergo o olhar entristecido, encontro um
esplendor desconhecido, e nele encontro a razão de estar aqui, contra a minha
vontade e apesar da minha vontade que me faz sua prisioneira. Então de
mansinho, como uma caricia repouso em pensamento um beijo na tua face, é ela que me detém, é ela que me faz sentir
tão feliz nesta minha inexequível felicidade.