Gostava
de ser velha, hoje, agora, de ter a sabedoria do tempo, aquela que o vento não leva na sua erosão de lembranças, de
esperanças.
Gostava
de já não ter sonhos, porque todos eles foram alcançados, vividos, repartidos.
E
mesmo que ser velha significasse estar perto do fim, mesmo assim gostava de ser
velha, só para conhecer a história da minha vida, para a reler nas horas calmas
e já não ter nada para lhe acrescentar, talvez um suspiro, um sorriso, uma
lágrima de felicidade. Talvez uma caricia nessas folhas da memória que sentiria
nesse dia com a paz que os anos trazem, na sua generosa oferta.
Gostava
de ser velha, hoje, agora, para já não ter dúvidas, apenas a certeza do que
sou, nascida desse caminho acre e doce que percorri. E hoje sem saudades, sem
mágoas ficar a saborear os dias, sem pensar nos meses, sem almejar os anos.
Gostava
de ser velha, hoje, agora e saber que cada espera valeu a pena, que cada dor
foi apenas o parto difícil da vitória, que cada tristeza foi simplesmente o
prelúdio de uma alegria maior.
Gostava
de ser velha, hoje, agora, contigo, que um dia chegaste, não sei se foi cedo,
não sei se foi tarde, mas chegaste e ficaste comigo, até eu ser, felizmente,
velha…