Sinceramente
não gosto dos teus livros. Bom, desculpa esta intimidade de tratamento, coisas
que o distanciamento de leitor nos permite. Isto não significa de modo algum
que me compare a ti, que me considera colega destas artes, porque na verdade
não me sinto nem sequer a espreitar no primeiro degrau.
Repito
a minha confissão, não gosto do que escreves. Garanto-te que já tentei, quis
sentir-me culturalmente evoluída, afinal, és um escritor de renome, com prémios
a enfeitar a parede. Bem que tento ler e reler, mastigar as frases para lhes
encontrar algum sabor, mas, nada. Falta-lhe algum ingrediente, um qb de tempero,
ou talvez excesso de fel. Tudo o que leio do que escreves deixa-me um sabor
amargo, dum pessimismo que não é de lágrimas mas de descrença em tudo o existe
e até no que há de existir, porque não vislumbras nenhuma luz no fundo do
túnel, caminhas por ele e levas-nos para essa escuridão sem a esperança de encontrar
alguma luminosidade.
Agora
deu-te para seguires o rasto de outro autor, decidiste poupar na pontuação,
vamos saltando de linha para linha sem percebermos se a anterior terminou, mas
quem sabe, dessa maneira, até um dia destes és galardoado com um Nobel. Uma
amiga minha costuma dizer com sentido pesar, “eu é que merecia um Nobel por
tentar ler estes autores, mas se digo que não li, chamam-me de ignorante para
baixo”.
Imagino-te
já a remexer inquieto na cadeira, como se sentisses um desconforto de quem quer
explodir algum impropério. Mas depois ergues esse olhar desgastado pelos anos,
acendes mais um cigarro e remetes-te ao silêncio. Com o desprezo que emite quem
se acomoda ao seu distinto pedestal. Leio e releio os meus humildes post.its e
sinto-me feliz pela minha incapacidade de escrever “grandes obras”, sinto-me
satisfeita por todas as vírgulas e pontos finais que não poupo, mesmo que a
crise o exija, sinto-me afortunada pelo meu anonimato, pelas minhas paredes
vazias de prémios, mas o coração repleto dos generosos elogios das minhas
amigas quando lhes deixo em cada parágrafo uma minúscula luzinha de alento, essa
luz, que tu perdeste algures pela fama.
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