Quem
me dera ser cigana, viver sem rumo, ter um lar em cada planície, dormir em cada
sombra de árvore. Encher os pulmões de liberdade, cavalgar na orla do vento,
navegar na crista das ondas.
Quem
me dera ser cigana “amar sem ficar prisioneira do amor”. Transformar em risos
as cicatrizes, dançar sobre o pó da estrada, essa que não tem apeadeiros
permanentes. Ter luz no olhar e feitiços no coração. E na voz, um silêncio
escondido, de histórias por contar, então fala, e no que diz ressoam
castanholas entoando na brisa gargalhadas que desafiam a sorte.
Quem
me dera ser cigana, encantada, profunda, audaciosa, como se enganam em
chamar-lhe vaidosa. Sã na sua loucura é
orgia de afectos e ternura. E nunca rasgo de cintura ensaia um passo flamenco, ergue
as mãos ao céu, e avança com gestos firmes meigos, bruscos, como quem desafia a
vida ao desdenhar da morte.
Quem
me dera ser cigana, viver num tempo que se libertou das horas e segue apenas a vontade
de cada momento.
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