“Tem
o nariz do pai”, foi logo herdar essa parte que é nele a mais feia. “Tem os
lábios da mãe”, felizmente que ficou com essa semelhança. “De feitio é mesmo o
avô”, teimoso, como só ele, “mas também a benevolência da avó”. “Claro que tinha
que receber os tiques do tio, bem que eu gostaria que tivesse recebido a
inteligência da tia”.
Mas
no conjunto, é bonito, não sei onde foi buscar tanta beleza, é generoso,
simpático. E no geral tem o equilíbrio necessário para se tornar um filho de
quem os pais se possam sempre orgulhar.
Na infância os
traços são ainda ténues mas perceptíveis ou adivinhados dessa herança genética, uma herança que perscrutamos ansiosos por
conhecer aquele pequeno ser que ainda mal sabe pronunciar meia dúzia de
palavras. Depois como num quadro de pintura, os traços vão ganhando expressão,
as sombras vão definindo os contornos, aumentam as palavras, crescem os
silêncios, tentamos aqui e ali encontrar semelhanças tranquilizadoras de alguém
que conhecemos. “A quem terá ido buscar tão mau feitio?” Procuramos na árvore genológica,
sem encontrar a similaridade. Por fim compreendemos que começou a cortar os
laços, que adquiriu a sua personalidade, “ou será das companhias?” Ainda
hesitamos. Não, não adianta procurar causas, apenas soluções, contornar aqui e
ali altos e baixos e continuar a sorrir, a descobrir que ele é mais, muito mais
do que o herdeiro do nariz do pai, dos lábios da mãe, é talvez todo o tempo que
lhe dedicámos, todos os sins, todos os nãos em todo o amor que continuamente lhe
demos.
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