Esta
manhã que se revela pronta a ser rescrita. Este sol que me ilumina o olhar.
Este azul que me oferece um teto de paz. E as nuvens, essas que chegam e partem
desenhando abraços que me tocam ao de leve quando em nevoeiro descem sobre mim.
Até a brisa vai soprando notícias “aos sete ventos”, não aquelas que recebemos
em turbilhão quando acedemos aos media,
são outras as noticias da brisa, fala da terra, das árvores que cresceram, das
flores que desabrocharam, dos rios que chegaram à foz, dos mares que
descansaram nas praias.
Então
olho as filas de trânsito, a marcha dos carros fumegantes e dos seus ocupantes
de olhar fixos numa estrada que lhes parece cada vez mais estreita, mais
ingreme, mais longa. Olho as vidas a passar, com pressa de chegar a algum lugar
cada vez mais vazio. Sinto a tristeza que lhes invade a alma, que lhes corrói a
esperança. Não, não estou escondida em lirismos, não me afoguei nos sonhos para
fugir da realidade, ela existe, bate-nos à porta, obriga-nos a cumprir as
normas que mudam a uma velocidade vertiginosa.
Só
as manhãs não pagam portagem, só o sol é grátis, só o céu é livre, e a brisa
continua a oferecer boas notícias do que aqui e ali vai acontecendo de bom na
terra, esta terra que habitamos. Que inveja, diz-me um suspiro, desta terra que
segue o seu rumo natural, deste rio que conhece o seu caminho, deste mar e dos
seus cais, das dunas que tem para se
abrigar. Eu, não tenho nada, mas tudo o que tenho me basta.
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