Este
quadro, este bote de salvação, este mar que é caminho, encheu-me o olhar,
encheu-me o peito de evasão.
Se
ao menos tivesse um bote para me levar mais longe, a esse lugar, onde, dizem,
mora a felicidade. Se ao menos tivesse um bote talvez fosse capaz de remar
nessa direcção.
Se
ao menos tivesse um bote, sei que encontraria um sentido para este mar que me
inunda de turbilhão a alma e de solidão o peito.
Podia
ser pequeno, podia ser frágil, desde que navegasse, e derrotasse todos os
obstáculos. Sem motor, sem velas, sem tábuas, sem vento, sem corrente, mas com
vontade de me navegar, de me levar, numa
evasão, numa saída para longe, muito longe, lá onde só os sonhos chegam nos
seus botes de maresia. Lá onde a noite pode adormecer serena e despertar num
sopro de brisa, e as nuvens escrevem histórias felizes não sei se verdadeiras,
mas que nos fazem acreditar nessa possibilidade com se fosse concreta.
Se
ao menos tivesse um bote de esperança para me evadir desta prisão com paredes
de realidade e grades de obrigações. Desta argamassa civilizacional que tudo
sabe exigir e tão pouco oferecer…
Este
mar, sempre este mar, que queremos reproduzir na tela para o guardar como se
fosse o nosso bote de alento.
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