Sou
daquelas pessoas que tem sempre algo para dizer, algo para contar, não banalidades ou comentar sobre a vida dos outros. Mas sou faladora, gosto de falar, de
contar os filmes que vi, artigos interessantes que li, coisas sobre novas
descobertas tecnológicas e científicas. Só não me meto em discussões sobre
política e religião, respeito a opinião de cada um, mesmo que tenham uma
opinião diferente da minha.
Nessas
alturas, prefiro calar-me por fora, porque por dentro, contínuo em longos
debates a tentar perceber as diferenças.
Na
realidade, tenho dificuldade em fazer silêncio, aquele silêncio em que não há
nada sobre o que falar, sobre o que pensar, um vazio em que pairamos acima das
coisas ou mergulhamos em nós e percebemos a insignificância das nossas lutas de
opinião. Tento silenciar a mente, não desisto à primeira, insisto uma, dez
vezes, há que parar, relaxar, descansar o corpo e a mente, apenas respirar e
seguir nesse embalo.
Esquecer
a pressa dos deveres, obrigações que nos impõem, que nos impomos ao ritmo
inflexível do ponteiro do relógio.
Mais
uma vez, regresso a mim, torno possível o impossível, calo-me. É então, nesse
silêncio que encontro todas as palavras a esvoaçarem-me a cabeça como nuvens
carregadas de acontecimentos ameaçando um deflagrar a qualquer momento. Inspiro
e deixo o ar sair-me lentamente dos pulmões, como se fosse um cansaço milenar.
As
palavras deixam de ter importância, na verdade era a importância que eu lhes
dava, porque nunca a tiveram e, partem sem serem ditas, sem ganharem som.
Agora
sim, há silêncio, mesmo que lá fora se ouçam as buzinas dos carros, as pessoas
nos seus passos apressados, os toques de telemóvel quando tocam todos em
simultâneo compondo um estranha sinfonia de falsos acordes.
Em
mim há um silêncio temporal, como se o relógio tivesse feito um impasse de
espera, talvez cansado das suas eternas badaladas. Há um silêncio existencial,
como se a vida, também ela, parasse, sem ser uma morte nem um renascer, apenas
um intervalo, sem sono, sem sonho, apenas o leve e sereno, existir.
Pouco
a pouco a consciência devolve-nos à realidade e percebemos dela apenas a sua
importância relativa, aquela que lhe damos. A pressa e o peso que lhe
atribuímos. Claro que há prazos, assuntos por resolver, coisas para fazer,
compromissos inadiáveis, etc., etc., tanto por fazer, tanto por dizer… Sim, é
verdade, há tudo isso, mas também há o silêncio, a calma, o parar, a forma de o
olhar. Está tudo em nós na forma como gerimos as nossas emoções, um lugar onde
em segurança, nos encontramos, nos resolvemos, nos equilibramos e a forma como
criamos os nossos momentos felizes de silêncio.