Algures
entre a infância e a adolescência, perdi-te. Eras a minha alegria, a minha
esperança, o que me fazia sonhar e acreditar que tudo era possível. Eras o meu
eu mais franco, mais livre, mais espontâneo. Eras o meu eu mais inteiro,
verdadeiro, sólido e ao mesmo tempo frágil e terno.
Enchias-me
os dias de luz, preenchias-me as horas de ventura. Eras as minhas asas, porque
sim, acreditava que as tinha, e, voava por mundos maravilhosos. Bastava abrir
os braços e de imediato recolhia abraços, bastava quase cair para mil braços me
ampararem. Bastava dizer dói e todos perguntavam onde.
Depois,
sem saber como perdi-te. Sem perceber onde desencontrámos-nos. E os nossos
caminhos nunca mais se cruzaram.
Cresceu-me
um silêncio, avassalou-me uma escuridão, dominou-me um medo, senti-me só, tão
só, sem ti.
Eras
a minha alma, o meu ânimo, a força motora dos meus passos. Eras a minha meta
sem horizontes, a minha coragem de negar entraves e derrubar fronteiras. Dizia
tantas vezes, eu consigo, afinal descobri, que sem ti não consigo, que sem ti
pouco ou nada sou. Que se eu era barco, tu eras a âncora. Se eu era mar, tu
eras cais. Que podia voar porque tu me eras ninho.
Todos
riam de nós, do nosso enlace, da nossa firmeza, não lhes ligávamos, sabíamos
que éramos felizes. Confiei que era para sempre e sem fazer caso dos teus
avisos, dos teus cuidados, aventurei-me a crescer sem ti. Rejeitei-te,
neguei-te. Vi-me crescida no espelho e pensei que isso bastava.
Fui
descobrir o que era ser apenas eu, sem ti. Cai e nenhuma mão se estendeu, abri
os braços e voltei a fecha-los vazios. Doeu e ninguém curou a minha ferida.
Pensei,
estou sozinha, responderam-me que apenas me tinha tornado adulta.
Não!
Gritei, não quero ser assim, quero voltar para ti, mesmo que te chamem
ingenuidade, inocência, que se riam de nós por ainda acreditarmos que o sol
brilha quando lhe sorrimos.
Volta
inocência, para voltar a voar sem asas, para voltar a ter confiança.
Preciso
de ti para sentir em mim a nossa felicidade.
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