Vi ao longe um grupo de colegas, formavam um círculo grande
mas repleto de curiosidade que de imediato chegou até mim, queria chegar,
queria ver, queria saber, o que se passava. Larguei a mão da minha mãe e corri,
cheguei lá e rompi o círculo. “Mas afinal, o que se passava? No centro do círculo
estava a Inácia, com um ar assustada. Não entendi aquela atitude, aquela
surpresa, aquela distância, corri para o centro abracei a Inácia e comecei logo
ali uma conversa questionando-a sobre as férias.
Ela olhou-me triste, quis
sorrir sem conseguir, como resposta à minha avalanche de perguntas encolheu os
ombros, depois, deu-me a mão e saímos do círculo enquanto passeávamos à volta
da escola. Íamos lado a lado, de mãos dada, com aquela ternura infantil que não
se importa com nada, não falávamos, apenas caminhávamos. Inundavam-me mil
perguntas, o porquê daquele silêncio quase imposto, a Inácia costumava ser tão
faladora. O porquê daqueles olhares estranhos, primeiro sobre a Inácia, agora
sobre nós.
A professora surgiu na porta e chamou-nos para a entrada, sentámos-nos em
silêncio, de vez em quando pelo canto do olho olhava para a Inácia, estaria
zangada comigo? A alegria a ansiedade à chegada ia sendo substituída por uma
tristeza que não conseguia explicar.
A professora começou a falar, como algumas de vocês sabem houve
um incêndio na casa da vossa colega Inácia e ela ficou queimada no rosto e
algumas outras partes do corpo ao tentar salvar a sua irmã mais nova.
“Incêndio? Queimada no rosto?” Olhei de imediato para a
Inácia, sim, era verdade, tinha várias marcas de queimadura no rosto, zonas
muito vermelhas, quase pareciam em ferida. Mas como era possível? Eu não tinha
reparado!
Percebi então a estranheza das outras meninas. Percebi igualmente
a minha atitude, para mim a Inácia continuava a ser a minha coleguinha de
escola, uma menina de 9 anos, loira, de olhos brilhantes e sorriso amplo,
marcas? Sim, a partir daquele dia passei a vê-las como um reflexo da sua
bondade, que se tinha atrevido a desafiar
o fogo para salvar a sua irmãzinha.
"Se os nossos olhos vissem almas em vez de corpos, quão diferentes seriam os nossos ideais de beleza"
"Se os nossos olhos vissem almas em vez de corpos, quão diferentes seriam os nossos ideais de beleza"
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