Lembro-me
de mim, num tempo em que tudo era novo, tudo era descoberta. Lembro-me de ter
sempre os olhos ávidos por ver, por ir mais longe, por conhecer.
Lembro-me
que os meses pareciam dias e os dias horas. Que o sol despertava e adormecia
antes de conseguir viver tudo o que queria viver nesse dia. Os mais velhos
lançavam-me olhares de cansaço como quem vem de uma longa viagem. E eu com
palmo e meio de vida, um pouco mais de curiosidade, subia-lhes para o colo,
aninhava-me nos seus braços e deixava-me embalar por histórias que não ouvia
mas que adivinhava. Enquanto pensava, “um dia, hei-de ser como os crescidos,
abrir a porta e caminhar pelo mundo.
Hei-de sair com a madrugada na mochila e regressar com tanto que contar
que nenhum sono há-de chegar nessa noite só para ouvir as minhas histórias
repletas de vitórias”. Porque quando se é criança, não há derrotas apenas
vitórias adiadas, desafios para nos impulsionar a tentar de novo.
E
esse dia chegou, deixaram-me sentada num banco da escola. Nunca o tempo me
pareceu tão lento nos seus passos de marcha até à hora seguinte. Os dias
começaram a parecer-me meses e os meses
sentia-os como se fossem anos.
Nesse
primeiro dia, quando cheguei a casa, corri para o meu quarto, saltei para a
minha cama, abracei a minha almofada e senti-me imensamente feliz. Foi então
que percebi que nenhuma viagem tem a história mais bela do que aquela em que
regressamos ao conforto de um lar, àquele espaço onde nos sentimos seguros para
fechar os olhos e sonhar.
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