Curioso,
como a vida nos acontece, a sucessão de coisas que nos surgem, momentos que nos
surpreendem. Os mistérios que se desvendam perante o nosso olhar.
Quando
acordamos pela manhã, desconhecemos o
que nos reserva aquele dia. Pensamos que tudo vai ser igual, acontecendo nas
mesmas horas, nos mesmos sítios, que nos
vamos cruzar com os mesmos rostos, ouvir as mesmas palavras, fazer os mesmos
gestos, a rotina que nos cansa pela monotonia, o hábito que nos faz sentir bem
nessa área de conforto.
Mas
eis que algo muda obrigando-nos a levantar os olhos do chão. Algo que chama a nossa atenção, que nos faz
parar e, de repente, o nosso dia fica diferente do ontem tornando único o hoje.
Pode até ser pouco mais que nada, mas o suficiente para nos fazer parar,
pensar, sentir.
Aquela
melodia, aquela frase, aquele sorriso, aquela lágrima, aquele grito que vem da alma e chega calado
aos lábios. Aquela imagem de vida
rasgada e sapatos sem estrada.
Ou,
porque não aquele aroma que fica no ar que nos abraça os sentidos e nos faz
regressar a um tempo que julgávamos esquecido, a memória olfativa leva-nos para
verdes prados onde corríamos numa liberdade que só sente quem não sabe o que é
o medo de correr e cair. A queda não nos assustava, as esfoladelas eram
medalhas comemorativas da infância, o que nos assustava era que chamássemos e
não viesse ninguém para curar-nos a ferida do joelho.
“Um
dia encontrarás o que procuras”, acreditamos que sim, crescemos com esse objectivo,
mas, nunca o encontramos, dizemos quantas vezes com desalento. Não encontramos,
não porque desistimos de procurar mas porque não sabemos o que procurar. Será
que é por um pote de ouro no final do arco-íris? Não, era por aquele minuto em
que paramos para ouvir a melodia de uma pequena ave, de olhar para aquele ninho
onde os ovos começam a quebrar e a vida a aflorar. Uma criança que pede a
ternura de um colo, a flor que na sua delicadeza revela corajosa resistência ao
vento e ao sol. A harmonia das 7 notas musicais criando as mais sublimes e
distintas melodias.
Tantas
e tantas coisas que só cada um pode contar à noite como foi o seu dia, se mesmo
sem procurar se encontrou uma razão para viver e renascer em cada amanhã.
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