
–
Estou doente, reclama o intestino, a culpa é tua! diz ele apontado para a vesícula, que muito atarefada tenta gerir os ácidos, como um rio que transborda
as margens.
– Minha? Ora, se ao menos o estômago fizesse melhor o seu trabalho de dosear os alimentos!
– Minha? Ora, se ao menos o estômago fizesse melhor o seu trabalho de dosear os alimentos!
– Lá vens tu, atirar-me culpas, quando eu apenas recebo coisas que me chegam pela
traqueia.
Que
de imediato se empertiga.
– Pois sim, só me faltava dizerem que sou culpada, eu lá controlo o que a boca
come? “Não sou tida nem achada”. Continua a traqueia, “ engulo, por vezes em
seco e passo a “batata quente ao vizinho, desculpa lá qualquer coisinha mas não
tenho opção”.
– O quê? Responde a boca escandalizada, “será que me põem a culpa se algum de vós
adoece, inflamado, mal humorados e afins?”
De
repente ouve-se um enorme estrondo, todos em coro se manifestam assustados.
“Que foi isto?”, “terá sido um vulcão das baixas entranhas digestivas?”
– Não, responde a boca. “Então, terá sido um
arroto das vias aéreas superiores sempre tão povoadas de “aviões” gasosos”,
questionaram.
– Não, volta a rosnar a boca, foi um bocejo, acho que a criatura humana vai
dormir, não façam barulho, porque se ela não dorme bem ataca-nos logo cedo
com uma dose maciça de cafeína e é o caos físico.
Quando
há dor, todos os órgãos se olham por dentro, se entre-olham por fora.
Mexemos
contigo, abanamos-te, chamamos-te, gritamos-te, por uma dor que nos magoa, que
é tua, mas também nossa.
Não
importa a culpa, queremos a solução. Trabalhamos em conjunto. Caminhamos nos
mesmos passos, na mesma direcção para a vida.
Queremos ir mais longe, contigo.
Cuida
de nós, cuidaremos de ti, assim teremos um futuro longo e feliz…
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