Há
uma certa magia nas palavras outonais, que como as folhas caiem, mas ao caírem
ganham uma outra vida, mais serena, mais amenizante, mais cicatrizante. As
chuvas ainda entrando tímidas na terra, com receio que lhe cobrem o atraso,
buscam uma desculpa escondida por entre os ramos das árvores. O céu enfeitado
de nuvens cinzentas, parecem carregadas não sei de que mágoas que escondem do
olhar atento do astro rei que as perscrutam sem as demover a revelar os seus
segredos.
Outro
dia, li o título de um livro, “Esse mar somos nós”, sem conhecer o sentido
destas palavras, elevo-as e penso nas nuvens, (essa mágoa somos nós), talvez,
quem sabe que destino levam as lágrimas depois de caírem dos olhos, de tombarem
no chão, de rolarem pela rua, de mergulharem no rio e de se evaporarem pelo ar.
Não chegam a ser mar, mas continuam a ser nós.
E
depois há este silêncio outonal, nem as aves ecoam melodias, como se o tempo
parasse, não há passos, nem vozes, não há buzinas, não há pressa. Parece uma
noite em que tudo nos adormece, em que tudo se nos entorpece, a vontade, o
querer, mas não, é apenas um final de tarde de outono.
Parece
simplesmente que esperamos, em suspense do que acontece, do gesto seguinte, de
cada início, de cada final e por fim ela cai, morre como quem nasce, com uma
beleza quase divinal, a última folha daquela árvore já de todas as outras
folhas despida. Há sempre uma que teima em ficar, em pedir mais tempo para
encetar uma nova história, uma nova memória.
Uma
criança que por ali brincava apanha a folha, oferece-a a uma amiga e ela
corando um pouco, guarda-a amorosamente por entre as folhas do livro escolar,
um dia ainda vai olhá-la com saudades deste outono, sentindo-a não como se
fosse uma despedida, mas o começo, quem sabe, de um final feliz…
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