Esta
é a vida que eu tenho, aquela onde me puseram e eu segui pelo caminho, mudando
aqui e ali a tendência de quem vive fadado pelas limitações genéticas, sociais
e culturais, talvez…
Porque
nem tudo tem de ser assim tão linear: outro dia ouvia a explicação de um
mecânico de automóveis sobre o impressionismo na pintura e fiquei deveras
impressionada.
Como se já não bastasse nesse dia a senhora da padaria resolveu
fazer uma divagação sobre música clássica fascinada por nesse fim-de-semana ter
assistido aos concertos dos Dias da
música, quando vinha pela calçada acima encontrei o varredor da rua, mudei
de passeio, acenei-lhe um bom dia fugidio, não fosse ele querer aproveitar a
maré cultural para me falar de escultura, teatro, cinema ou outra arte.
Este
gesto aparentemente egoísta, fez-me sorrir por dentro, uma alegria de quem
encontrou visível naquelas pessoas a possibilidade de se poder seguir por um
caminho que não parecendo o melhor para si, o mais óbvio, conquista-o e
simultaneamente desenha-lhe novos contornos.
E é feliz por ser quem é, em vez
de se acomodar à ideia que isso são coisas para quem tem outro padrão económico
e social. Afinal crescer, amadurecer, aprender, querer conhecer, não tem de ter
necessariamente altos custos mas enriquece-nos o espírito e melhora cada um de
nós.