Não
partas antes de fazeres 8, 10, 18, 20, 30, 50 ou 80 anos. Não partas antes de
chegar o verão para te ver a mergulhar nas ondas e fazer castelos de areia na
praia. Não partas antes de termos as nossas primeiras discussões sobre as tuas
notas escolares, sobre as tuas namoradas, sobre as noites de farra e as minhas
insónias e os meus medos de que te perdesses por maus caminhos. Só queria que
os chegasses a conhecer e que depois, optasses por não os seguir.
Não
partas mesmo que um dia usasses as calças rasgadas nos joelhos e descaídas na
cintura. Que optasses por um corte de cabelo penteado pelo vento. Que fumasses
às escondidas e disfarçasses o cheiro com pastilhas elásticas. Que me
rebentasses os ouvidos com o som dos Heavy
metal, tão diferente das baladas que
te cantava até entrares no mundo dos sonhos.
Não
partas mesmo que um dia quisesses ser gótico, amisch ou budista. Mesmo que
discutíssemos sobre incompatibilidades geracionais. Mesmo que me gritasses que
querias o mundo como oferta na tua mão, porque achavas que tinhas direito a
tudo por teres nascido de um desejo maternal e não da tua exclusiva vontade.
Mesmo
que fizesses muitas escolhas erradas, mesmo que seguisses um destino distinto
de tudo o que ambicionei para ti, mesmo assim, continuaria a pedir-te, não
partas. Porque se não partires, terei mais tempo para tentar fazer de ti uma
pessoa feliz.
Olho
para ti, e já não consigo desenhar-te um futuro mais longínquo, se não a
distância que vai do teu coração ao meu.
Quando
ainda queria fazer tantas coisas: ensinar-te a andar de bicicleta, a lançar
papagaios de papel, a fazer truques de magia, a identificar as estrelas pelo
seu desenho no céu.
Queria
tanto continuar a ler-te histórias para adormeceres sem medo dos sonhos maus.
Queria
mais que tudo, parar o tempo, parar a doença, parar as dores, parar a ameaça
diária da tua partida.
Ainda
bem que não percebes esta dor que me corrói o corpo e a alma, ainda bem que não
sabes que o teu caminho é curto e que por isso não temes nada, e que continuas
a sorrir nos poucos momentos bons que ainda consegues ter.
Em
mim, em nós, que sentimos cada vez mais a proximidade de tua ausência, só conseguimos
pedir-te que não partas, porque chegaste há tão pouco tempo, ainda mal conheces
o mundo, ainda mal viveste a vida, como podes partir dela sem aumentares as tuas e as minhas, as nossas
recordações?
Mas
se tiveres de partir, leva a certeza de que ficas para sempre entre nós, e que te
veremos cada vez que olharmos o céu, e nele encontrarmos a tua presença na estrela mais brilhante que nos
lembrará o teu eterno sorriso iluminando
o horizonte da noite.