Não
sorri, mas também não é infeliz, uma frase que me ficou no pensamento. Imagino
sempre que felicidade se vê no rosto, que se reflecte no sorriso. Que uma face
séria não é feliz ou então está impregnada de botox.
Na realidade pode-se ser
feliz sem revelar a felicidade, pode esconde-la no peito, abraçar-se a ela à
noite com receio que fuja na madrugada. Pode-se caminhar como se flutuasse numa
nuvem e no entanto os passos mantêm-se firmes a quem olhar.
Decidiu disfarça-la
de solidão, decidiu guarda-la na algibeira não vá alguém rouba-la. Afinal,
revela, já lhe furtaram tantas coisas ao longo da vida, roubaram-lhe a esposa,
a filha, o emprego, a saúde, o dinheiro, até o sorriso, esse já nem se lembra
quando lho roubaram, talvez naquele dia em que o trocou por um mar lágrimas que
entretanto secaram em tantos lutos, em tantas batalhas perdidas.
Não
sorri, mas também não é infeliz. Garante com a placidez dos anos passados. Aprendeu
a viver a felicidade a conta-gotas, como se fosse um remédio para o coração e
ele vai batendo devagar como se já tivesse poucas forças para levar o sangue ao
lesse corpo carregado de anos, de lembranças, mágoas, mas também de alegrias,
essas que agora o tornam menos infeliz, apesar de já não conseguir sorrir.