“Os Invernos crescem entre nós”. Dizes isso como se te esquecesses das Primaveras.
Daquelas em que plantávamos flores no nosso jardim de sonhos.
Que
importam os Invernos se mergulhámos na frescura marítima de todos os Verões da
nossa vida. Talvez já tenhas esquecido dos Outonos de contarmos as folhas que
caiam das árvores como se fossem estrelas de desejos. Porque tínhamos muitos desejos para realizar e todas as folhas não chegavam para
atender a todos eles.
Porque
te agarras aos Invernos de agora, vazios de nós, gelados no peito, quando
tivemos muitos outros que nos inundavam o corpo e alma de um calor que era só
nosso, como se fosse um segredo, um tesouro que não queríamos partilhar.
Mas
tu, que só tens Invernos frios na memória dos dias, vais vendo passar a vida
num cais que é apenas de partida. Constróis pontes de uma só estação sem
deixares que a sucessão das outras venha dar-te um novo olhar.
Quem
me dera ter para te dar, um raio de sol, uma nuvem de esperança para que a mais
ténue lembrança viesse envolver-te num abraço de paz e renovação. Porque quem
passa por nós não cria precipícios de angústia mas pontes serenas que unem as
margens doces do passado com a perspectiva luminosa do futuro. Não deixes que o Inverno te seja eterno, porque há sempre uma primavera a querer florir e um
caloroso verão a espreitar.