Por
vezes já não basta o que se diz, o que se escreve, são palavras levadas pelo
vento ou coartadas pelas silabas de letras mal conjugadas.
Então
a semântica emudece presa na sua rede de sintaxes ansiosas por encontrar um
pilar fonético que lhes dê sentido.
Mas
nem que o eco repita mil vezes a expressão, ela cai no vazio de emoções
ausentes. E num gesto quase desesperado, num quase suicídio literário, as
letras uma a uma mergulham nesse mar a que chamam tempo. Porque o tempo cura tudo.
Porque o tempo leva ao esquecimento. Quando no fundo, elas apenas desejavam um
encontro de grafias, um acordo ortográfico que as fizesse escrever, ler e entender
todas as palavras, as escritas e as por escrever num mesmo sentido.
Mas
é mais fácil fechar o livro, é mais fácil rasgar a carta, é mais fácil desligar
o botão e esquecer a dolorosa semântica do coração.
Escondemo-nos
em figuras de estilo para enganarmos a razão que nos alerta para o abismo das
emoções que como doidas alienadas continuam a escrever retóricas repletas de
malabarismos discursivos que tentam apenas ser, bucólicas.
De
repente invade-nos um silêncio magoado, olhamos as letras solitárias de outras
que já nos tardam na folha branca, onde podiam estar desenhadas as linhas
direitas de uma Primavera afastasse de vez Inverno que nos invade a escrita.
Talvez
tudo isto seja uma imaginária hipérbole, ou, quem sabe, o ténue caminho de um
animismo de esperança.