Hoje
apetecia-me conversar. Sentar-me no sofá, olhar-te no rosto e ver o teu sorriso
que me incentiva a sorrir também, num contágio de cumplicidades.
Hoje
apetecia-me conversar, abrir a alma, esvaziar o peito deste suspiro que quase
me sufoca, com vontade de gritar o que me circula nas veias e faz correr
febrilmente cada célula do meu ser.
Cansam-me
as conversas banais, que falam sem nada dizer, sobre o tempo que muda consoante
as estações, as desgraças do mundo, o desânimo dos dias, resta-nos as novelas,
umas a seguir às outras, para nos abstrair de pensar nas nossas vidas
delapidadas pela crise, seja ela qual for porque já conheci muitas.
Magoam-me
as conversas rápidas, as frases curtas que não nos deixam saborear as palavras,
a afetuosidade da sua sonoridade. Nem enche-las de primaveras floridas para as
oferecer, retirando os espinhos da vida, como se só quisessem falar dos seus
invernos ou rir deles para fingir que não doem, quem sabe o coração acredita e
esquece.
Hoje,
apetecia-me conversar, tenho tanto para te contar, nem tudo são tristezas, nem
tudo são vendavais, também há momentos de bonança que tenho para partilhar
contigo, para te oferecer e fazer rir e fazer acreditar, que é bom conversar,
quando olhamos nos olhos. Num momento que seja só nosso, não importa se depois
vais a correr para casa e perder-te de novo na rotina dos dias.
Porque
hoje, só hoje, apetecia-me conversar, o assunto? Pouco importa, nem é realmente
o mais importante, basta-me a tua presença, a tua voz, o teu silêncio, a tua
amizade. Há quanto tempo não conversamos? Céus há uma eternidade! E a vida nem
sequer é eterna…
Talvez
seja até demasiado pequena para perder tempo nesta conversa, poderás pensar.
Mas
acredito, que se estás aqui é porque tal como eu, pensas que a vida é demasiado
curta para não lhe dedicarmos um momento, para a apreciarmos e partilharmos
numa agradável, interessante e terna, conversa.