Eremita,
ascético, místico, mas não triste, não perdido na sua ilha de solidão. Apenas
alguém que decidiu viver de uma forma diferente. Ausente de tudo e de todos.
Rompeu com a indeterminação, avançou, fez a mudança, concebeu a diferença.
Porque na realidade não escolhemos, movemo-nos para onde os outros vão, ainda
que digamos que não. A indeterminação é uma devoção que se rende acriticamente
aos fluxos de gostos dominantes, a que chamamos dimensão comunitária ou, simplesmente, moda. Mas este ser resoluto, apagou a televisão, desligou o pc e
o tlm, abriu as janelas, encheu a casa de sol, deixou entrar nela a natureza e
viu-a pela primeira vez com o seu olhar de ser renascido. Viu uma imagem
diferente, verdadeira e não digital, cheia de vida e não de pixéis. Fechou as
torneiras e banhou-se na frescura do rio. Arou o solo, semeou o pão, comeu-o
sentindo o sabor da essência natural da terra. Conversou com as nuvens, abraçou
as flores. Contemplou os pássaros e fez silêncio para escutar a sua melodia.
De
vez em quando desce à “civilização”, olham-no como se fosse um alienado, ri-se
por dentro, desses olhares que se desviavam à sua passagem.
Dessa
sociedade empedernida que não tem coragem de reconhecer que muitos dos frutos
que está a colher são resultado do modo como semeou. Que é preciso estender
a mão, segurar o ramo e caminhar como raízes de árvores. Devagar, mas
firmemente em busca da seiva da vida. Em busca de si no mundo, descendo ao
magma da existência. Para compreender o
que é verdadeiramente importante e o importante é encontrar a paz. Para que a
vida seja vivida em harmonia com todos os seus elementos e que seja sempre
construção e não destruição.
Chamaram-lhe
alienado, por não compreenderem a sua felicidade. Estão demasiado habituados a
ser infelizes e a viver a conta-gotas de alegria.
Chamaram-lhe
alienado por inveja da sua liberdade. Viraram-lhe as costas com desprezo e
arrogância fingida porque na verdade desejavam segui-lo, libertar-se da rotina
dos dias, do compasso das horas e caminhar descalços, deixando na terra as
pegadas da sua livre escolha. A escolha de ser um feliz alienado.
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