Olho,
mas sinto que é insuficiente o meu olhar. Que a multiplicidade de imagens, de
sensações, de sentimentos não cabem na eternidade, quanto mais, na finitude do meu ser. Tudo o que olhei,
tudo o que olho, o que desejo olhar, nada é, do
que me rodeia, do conhecido e desconhecido, que nunca poderei abarcar.
Faço
escolhas, não sei se as melhores opções. Não busco o fácil, mas o verdadeiro. E
o olhar torna-se contador de histórias, um ilustrador que pinta com traços simples a cegueira do coração.
Esse
músculo que bate compassado, prisioneiro do corpo, sonha com aventuras que
poderia ver se possuísse a visão dos olhos. Mas é apenas um músculo que sustem
a vida, em troca, recebe a força desse olhar que o faz vibrar e sonhar e
sentir.
– Sim, porque o coração sente, sente a mágoa
que a visão do olhar lhe transmite. Sente a desilusão que o olhar por vezes lhe
quer esconder. Sente o vazio, a impotência de quem olha sem nada poder alterar.
Os
mais teóricos, cépticos, dirão que tudo isso se passa apenas no cérebro, nesse
conjunto de neurónios que constroem e desconstroem as imagens, interpretam e
fazem o corpo sentir essa interpretação.
O
coração suspira triste com a descrente ignorância que converte as emoções mais belas e
delicadas em inóspita razão pura. Quando nem sempre o coração obedece à razão,
quando o que o comanda lhe bate ao ritmo
da emoção.
Então,
constrói memórias, guarda-as dentro de si. Como se fossem preciosos tesouros.
De vez em quando deixa sair uma, através dum longo suspiro. É com tristeza que
as vê partir, são filhos que seguem um novo destino. Além disso é necessário
arranjar espaço para novas memórias, novos olhares.