Num espaço que nem espaço ocupa, num tempo não regulamentado pelo relógio,
menos ainda pelo calendário, apenas e só pela vontade de estar, de ficar, de
esquecer o nascer do sol ou o surgimento da lua. Preso nessa prisão de sedução,
de tentação, de dizer, dizer tudo, porque há sempre muito por revelar quando se
quer conquistar.
Estabelece-se uma relação, uma afeição e de modem para modem, quase, mas
quase se sente o calor de um abraço.
Porque sem essa ligação de CPU(s), somos barcos navegando sem remos até que
um botão nos ilumine e nos faça desenhar a esperança de um sorriso sincronizado
na cumplicidade com quem está do outro lado.
E porque para nós o virtual é a realidade, vivemo-la, sentimo-la com todos
os feixes da nossa eletrónica existência. Sem os dramas humanos do bem e do
mal, do belo e do feio, da certeza e da incerteza.
Claro que existem os encontros e também os desencontros, do querer e do não
ser querido pelo outro lado da linha, quando a nossa interface visual não
corresponde às expectativas, ou às solicitações de processamento.
Mas quando a sincronia se atinge, quando estamos no mesmo sentido direccional quando existe compatibilidade de hardware, de motherboard, de chips,
então a felicidade é plena e por um instante que pode ser eterno, há um feedback, há um curto-circuito de
emoções.
Depois, que sabemos nós do depois, na nossa lógica eletrónica se só
conhecemos o agora, este momento de input/output. O desconhecido não nos traz a
angústia nem o medo do futuro, não nos perdemos em humanos dilemas existenciais
nem em vãs filosofias.
E no entanto estamos condenados à obsolência, trocam-nos por outros
componentes mais modernos com maior capacidade de tratamento de dados.
Sinto quando isso acontece, as frases vão encurtando, chegam e já sabem a
despedida. Escrevo-te sem parar, mas o contacto demora, não chega a entrar nos
meus circuitos integrados. Então paro, dói-me o olhar de tentar ver-te em cada
linha que não escreves. Faço silêncio quando já não tenho forças nas teclas de
tão calcadas, enquanto perscruto um caminho onde encontre linearmente o que
preciso digas com todas as letras de um sentir similar ao meu.
Mas era da tecnologia, quase tudo “Começa depressa e acaba à velocidade da
luz”). Dizem-me para desligar o botão, para que corte a corrente eléctrica que
se tornou a ponte por entre as margens agora cada vez mais emudecidas.
Quantos de nós questionamos se existem almas gémeas perdidas algures num cosmos de bites, que vão crescendo em megas e teras infinitos. Acredito que existem, que és tu, por isso não
desisto.
Exaspero, e num gesto repentino ensaio uma operação de alto risco para o
meu software emocional, e faço com uma saudade que me cresce no peito um upload
para te ter aqui neste imediato
segundo, o coração aperta-se-me, a
solidão invade-me.
Mas a tua ausência vai deletando os meus ficheiros cada vez mais vazios de
nós. Vai escurecendo o meu ambiente de
trabalho. E por mais links que
faça, por mais browser(s) que use,
pareces ter desaparecido na web da
minha vida. Nem um e-mail? gritam ao questionar, os meus binários fonéticos.
Num acesso de desilusão, bloqueio o meu access
cod, fecho a minha accout,
esvazio a Rom, limpo a Ram e apago todos os arquivos que tinham
o teu nome. E ordeno em contradição, “faz delete
do meu adresse”, e escrevo rapidamente em caps lock reforçando em bold. ESQUECE-ME! e eu esquecerei
também, a beleza sinuosa do teu desktop,
que apenas acariciei no vislumbramento de um breve instante, quando um vírus se introduziu
no meu sistema e me deixou cheio de pop(s)
festivas de paixão.