“O
amor tem destas coisas”, dizia uma amiga minha ao comentar o casamento da
duquesa do nosso país vizinho, já octogenária, cujo nome me escuso de
mencionar. Num primeiro impulso adorei a sua ingenuidade, depois passei a
detestar a minha descrença numa humanidade que já não se gere essencialmente
por sentimentos leais e verdadeiros. Os anos que passaram por mim, deixaram
lições que aprendi com maior ou menor dificuldade. Ao longo desse tempo fui
perdendo esperanças, lembranças, talvez até ideais. Mas quero acreditar que não
deixei pelo caminho o essencial e que sou um ser humano com qb de são e de
louco, que sou uma cidadã cumpridora e uma amiga verdadeira.
Enquanto
divagava na análise dos meus valores, e num balanço de consciência, a minha amiga
de feitio germânico, como gosta de referir do topo dos seus “oitenta e alguns, nem
muitos nem poucos”, palavras dela. Volta a insistir com a sua natural graça,
“Mas há quem acredite num amor encontrado aos 80 e tal anos? Tenham lá
paciência, que o vosso romantismo já extravasa os limites da lógica! Digam-me
em boa verdade, quem é que se iria apaixonar pelas minhas rugas, quem é que se
quereria casar com o meu reumático ou partilhar a vida com a minha já notória
senilidade? Que não é tanta assim, porque
ainda tenho consciência da realidade. Só se eu tivesse muito dinheiro ou uma
posição social invejável!?” Rimo-nos em conjunto da imagem que se desenhou na
nossa imaginação. Do seu humor jovial, da sua franqueza e sobretudo rimo-nos
com ela, pela sua destreza de ideias, que está longe da senilidade que refere
com grande candura. E cresce-nos a certeza que se já perdeu a ingenuidade dos
verdes anos, mas a vida recompensou-a com a alegre sabedoria do amadurecimento.
No
ar fica a dançar a questão: Até que idade se pode amar?
Não
sei responder à questão, no entanto, desejo sobretudo que se ame enquanto
existir nos pulmões um folego de vida capaz de pronunciar aquela doce palavra
que nos suspira do coração.
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