Entristecem-me as pessoas que estão sempre a
dizer “que não vão chegar lá”, mas chegam, entre receios e hesitações e entre
dias arrancados às noites, “chegam lá”. Esse “lá”, que cada um tem o seu, em
forma de meta, em forma de idade. E quando “chegam”, foi através dum percurso
sempre repleto de pessimismos, fazem-no sem retribuir o sorriso ao sol que lhes
ilumina o dia, sem apreciar o renascer da primavera. Sem se aconchegarem
confiantes na ternura de cada amanhecer, sem reconhecerem a esperança de cada
nova oportunidade. E porquê? Porque se condicionam na antevisão de um final.
Erguem os olhos a um céu de temor e sussurram “que é pecado”. Enumeram-nos como se dominassem uma doutrina:
A ira, quando a raiva nos cega; A gula que nos torna insaciáveis; A luxúria do
prazer; A soberba da arrogância; A preguiça que nos faz cair na letargia; A
vaidade refletida no excesso de atenção ao corpo.
Mas o verdadeiro pecado é conter a ira por não
ter capacidade de reagir. Cair numa anorexia voluntária por excesso de
regramentos. Em suma, não aproveitar os pequenos prazeres da vida. Não cuidar
de si com receio de que lhe apontem indícios de futilidade. Apagar o arco-íris
e viver uma existência a preto e branco.
Pecado é não desejar, quando na vida há tanto para conquistar. Não
sonhar, quando há tantos sonhos para concretizar. Deixar de viver o futuro por
estar agarrado ao passado com medo do desconhecido. Pecado é chegar a um dia em
que se olha para trás com a certeza de que a felicidade esteve sempre, nas
nossas mãos.
Sem comentários:
Enviar um comentário