Fecho
o livro que estava a ler, cheguei à última página, por momentos, invade-me uma
sensação de orfandade, de quase saudade pelas páginas que chegaram ao fim, e
não se pode dizer que tenha sido um final feliz.
Porque é um livro de poesia,
onde o poeta se derrama em versos que seguem no rio da escrita, perdendo-se por
mares de solidão. E intuo um sentimento de fracasso, na sua missão de
conquista. Onde ímpeto do escritor não encontrou resposta para as suas
questões mais íntimas. Porque as tem, acreditem, deixa-as, não nas linhas que
escreve, mas nas entrelinhas dos seus versos entrelaçados por entre as rimas.
“Já
não te dedico versos de amor, para quê, se tu não os lês? (“Claro que leio”) já
te adivinho a pronunciar num esvoaçante pensamento.
Claro que lês, reconheço, mas não com o coração. Não
com o sentimento de reciprocidade que o meu espera do teu.
Já fui longe, tão
longe, para te trazer: todos raios de sol, todas as gotas de chuva, todas as ondas de mar, todos os oásis do
deserto, todas as sombras do luar. Já construi pontes de esperança. Até te trouxe
relâmpagos para te iluminarem o caminho de volta aos meus braços. E no entanto
continuas aí, algures neste universo de vidas, nesta dimensão de espaço e de
tempo, que é, neste momento, a única coisa que temos em comum. Tudo o
resto diferencia-nos, afasta-nos, faz-nos seguir caminhos eternamente distintos.
Já
não te dedico versos de amor, para quê se viras a página e me arrumas
automaticamente na estante, empilhado junto com muitos outros livros que já te
contaram histórias. Mas as suas histórias não contêm o mesmo fervor, o mesmo
desejo de tornar realidade a fantasia que descrevo em plumas de vento, só para
te levar comigo, para permanecer contigo, por dias, meses de um folhear
tranquilo.
Nesses dias em que me deixas dormir a teu lado, pousado na tua mesa-de-cabeceira
enquanto me torno, alegremente, guardião dos teus sonhos…
Mas
não, já não te escrevo versos de amor, porque sei agora que vou ficar para ti, como uma página em branco, onde nunca irás escrever a
conjugação de um verbo feliz…”
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