Não
devemos (agarrarmos-nos) às coisas, nem às pessoas; estamos só de passagem… Esta
vida é um mero aceno e, entre o olá e o adeus é um ápice. No entanto, são anos,
por vezes vários anos, nunca diremos (muitos), de estar aqui, de estarmos
juntos.
De
repente, há uma porta que se fecha, um coração que se sente pequenino de tão
apertado, de tão assustado. E verdade que outra porta se abre, cheia de
oportunidades e promessas, mas… ai a saudade que nos sufoca o olhar, que nos
estrangula as palavras, que nos inunda de dúvidas o pensamento. Ai a saudade,
que nos faz esquecer os dias escuros e só nos deixa recordar aqueles em que o
sol brilhou.
Porquê?
Questionamos, que tinham aquelas paredes de pedra e cimento para nos deixar tão
doce e profundo sentimento? Tinham tudo, abrigavam pessoas, algumas que nos
ficam cravadas na alma como que fazendo parte dela. Momentos, tantos, todos,
até os que nos magoaram, davam asas aos sonhos mesmo até aos que nunca
concretizámos.
Passei
naquela casa mais tempo do que nesta, onde moro. Deixei ali muito do que fui e
aquilo que hoje sou, por entre os seus recantos ainda ouço a voz dos que
partiram, ainda sinto os seus passos subindo e descendo as amplas escadarias.
Cada janela, tem um olhar que ainda espreita para os telhados de Lisboa, para
os jardins onde saltitam os melros, onde debicam os pardais.
Na
minha janela ainda encontro vestígios dos beijos que os passarinhos deixaram
quando, teimavam em espreitar. Outros, mais persistentes vinham dar pancadinhas
no vidro. Eles queriam entrar, eu, quantas e quantas vezes, desejei sair, para
voar com eles.
Não
devemos agarrar-nos ao tempo que passa, às memórias, mas que somos nós sem
elas, um mero corpo vazio que perdeu ao longo do tempo a essência do que é viver.
O passado é algo que construímos, não podemos simplesmente virar-lhe as costas
e seguir em frente. Até porque um dia,
teremos mais passado para contar do que futuro para construir.
Queremos
guardar tudo na memória, aquela casa, cada recanto, cada degrau, cada pessoa
que lá morava, que lá trabalhava; aquela rua, cada esquina, cada pedra da
calçada; os vizinhos, inclusive, os que vimos quase nascer, crescer, casar,
partir para as suas vidas, longe das nossas.
Não
se iludam, não estou parada no tempo, gosto de mudanças, de coisas novas, mas continuo
a gostar simultaneamente das antigas. Porque, na verdade, nunca gostei de
fechar portas, prefiro, abrir janelas para se tiver de partir, saber que está
ali, sempre que queira lá voltar…