Hesito, temo dar aquele passo, porquê? Porque há uma consequência,
já não se pode voltar para trás, mudar o
caminho. É um corte, uma decisão, um acto que pode mudar tudo, que pode ser um
final ou um começo. Pode ser para melhor, se assim fosse, não temeria, iria a
correr, ganharia asas, voaria. Mas pode ser para pior, então quero recuar,
quero fugir, refugiar-me um abraço, dizer não! Primeiro num sussurro, depois a
plenos pulmões.
Mas que sei eu. Temo,
tremo, calo, avanço para o cadafalso desta vida cheia de horizontes
desconhecidos, de pequenas mortes, porque sim, morremos por dentro cada vez que
decidimos isto e não aquilo.
Há um buraco no estômago, um suor frio que nos desce do
rosto, as palavras que querem sair mas sucumbem antes mesmo de nascer. Sento-me
no canto mas distante como se me quisesse esconder, talvez se esqueçam de mim e
decidam por mim e depois não ponham as culpas se der errado, chamem-me cobarde,
aceito as minhas fragilidades, tenho mais dificuldades em aceitar os meus
medos.
Mas às vezes é preciso coragem para sentir medo, quando o
medo é apenas uma forma aprendermos a pensar e repensar sem agir de forma
irresponsável para mais tarde nos arrependermos. O medo pode limitar-nos, pode
conter-nos, pode magoar-nos. O medo pode doer-nos sem causar ferida. Pode ser
um abraço aconchegante ou um enleio que nos sufoca depende de nós como o
olhamos, como o recebemos, como o ouvimos. Se tivermos medo, convém hesitar,
mas nunca devemos deixar de caminhar, mesmo que tenhamos medo de o fazer. “Coragem
não é não ter medo, mas de agir apesar de o ter.”
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