Vou
falar-vos da Eugénia, uma vizinha da minha rua, uma rua pequena, quase todas as
pessoas se conhecem e sabem as histórias de vida umas das outras, não por
coscuvilhice mas por partilha, por solidariedade e em muitos casos, por amizade.
Conhecia
a Eugénia, mulher sólida, robusta, de gargalhada espontânea. Era a alegria em
pessoa, casada de fresco, um projecto de vida bem delineado, uma filha recém-nascida.
Eugénia era o rosto da felicidade.
Mas
sem aviso prévio tudo se desmoronou, uma doença invadiu-a silenciosamente.
Amputaram-lhe uma perna, perdeu a
gargalhada, perdeu a solidez, perdeu a vontade. O marido que lhe tinha jurado
amá-la na saúde e na doença partira levando consigo a filha que ainda mal aprendera
a reconhecer o rosto da mãe.
O
tribunal decidira que ela não tinha condições para criar um criança, já que não
tinha emprego. Nunca trabalhara,
dedicara-se ao lar, ao marido e ao papel de mãe. Eugénia repetia cabisbaixa num fio de voz, “amputaram-me a
vida”.
Reencontrei-a,
passados muitos anos, foi um encontro feliz, daqueles que nos faz sentir a alma
rejubilante, Eugénia voltou a ser uma mulher sólida e de gargalhada presente, sorri,
chora e ri emocionada, “vou ser avó” conta com voz musical. Encontrou o abraço
da filha, agora já mulher.
E
mais, refere com um misto de orgulho e de ternura, encontrou o amor, no carinho
de alguém que promete e cumpre amá-la na saúde e na doença. Que lhe enaltece
cada vitória, cada obstáculo ultrapassado.
Eugénia
uma mulher como tantas outras, que lhes “amputam a felicidade” mas que têm a
coragem de construir outras, muitas felicidades.
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